Especialistas avaliam os sete enlatados mais vendidos em mercados de SP
PRATICIDADE, SAÚDE, VALIDADE E SABOR DEVEM SER CONSIDERADOS NA HORA DE CONSUMIR ENLATADOS
FLÁVIA G PINHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Responda rápido: tem algum alimento enlatado na sua despensa? Se tem, você não está sozinho.
Embora os enlatados tenham virado antônimo de comida saudável, exemplo do que deve ser banido da dieta, o brasileiro nunca comeu tanto produto em lata.
Segundo a Associação Brasileira de Embalagem de Aço (Abeaço), 300 lançamentos chegaram aos supermercados nos últimos três anos –os alimentos responderam por metade dos 5,8 bilhões de latas fabricadas no país em 2013.
Só de molho pronto de tomate, segundo o instituto de pesquisa Kantar Worldpanel, foram consumidas 285 mil toneladas em 2013, um crescimento de 58% em relação a 2009.
No caso dos peixes, estudo do Instituto Nielsen mostra que as vendas, só neste ano, já cresceram 10% em relação a 2012.
Pesa a favor das latas a praticidade –nenhum outro tipo de embalagem garante prazos de validade tão longos. Não por acaso, frutas e legumes são os mais consumidos.
Em contrapartida, é justamente a falta de frescor que gera a desconfiança.
Daí o espanto que vem causando o restaurante pop-up Tincan, em Londres, especializado em peixes que saíram de latinhas. O jornal inglês "The Guardian" comparou a iniciativa a outros modismos exóticos (como o café de Tóquio que tem gatos soltos pelo salão com os quais os clientes podem brincar por um valor fixo a ser pago por hora), mas concluiu que, há 200 anos, os enlatados têm sido uma forma barata e eficiente de preservar peixes (leia mais sobre o Tincan na pág. F5).
AMOR E ÓDIO
Para compreender a relação de amor e ódio com a comida enlatada, a Folha levantou quais são os produtos mais vendidos nas redes de supermercados Pão de Açúcar e Extra e no empório de luxo Casa Santa Luzia.
Tomate pelado, molho pronto de tomate, milho, ervilha, seleta de legumes, sardinha e atum foram submetidos à análise de profissionais de diferentes áreas.
Todos os sete itens podem ser encontrados frescos ou congelados – eis por que o leite condensado e o achocolatado ficaram de fora.
Os especialistas esmiuçaram as propriedades nutricionais e a transformação que a técnica de envase provoca no sabor e na textura dos itens.
No balanço final, o tomate pelado, a sardinha e o atum saíram relativamente bem na foto –livres de conservantes, apresentam bom desempenho na cozinha (embora bastante diferente das versões frescas).
O milho dividiu opiniões, enquanto o molho pronto, a ervilha e a seleta foram gongados por unanimidade –o excesso de sódio e o sabor artificial são apontados como os principais problemas.
PRATICIDADE, SAÚDE, VALIDADE E SABOR DEVEM SER CONSIDERADOS NA HORA DE CONSUMIR ENLATADOS
Entre os consumidores, a relação com os enlatados é ambígua. Roberta Ciasca, chef dos restaurantes Miam Miam, Oui Oui e Mira!, todos no Rio de Janeiro, só admite produtos frescos da estação em suas cozinhas – tendência crescente no mundo.
Em casa, porém, não é tão rígida. "Faço minha própria passata de tomates nos restaurantes, mas tomate pelado em lata é um produto muito útil, que sempre tenho na despensa", atesta.
Roberta também já adaptou uma receita de família, o macarrão à putanesca, ao atum em lata. "Sempre fizemos em casa nossa conserva do peixe, mas a versão pai sozinho em casa' se resolve com a latinha mesmo", diz.
Outro que engrossa a corrente é o paraibano Onildo Rocha, do Roccia Cozinha Contemporânea, em João Pessoa. Ele tem uma opinião "devastadora" a respeito dos enlatados, mas admite fazer concessões em território doméstico. "Tenho dois filhos e preciso apelar no dia a dia."
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