COMENTÁRIO - Beto Vetromille
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Foto de Carlos Queiroz - DP |
Há muito tempo que venho utilizando meus espaço na Rádio universidade 1160AM, dentro do programa que apresento no horário esportivo do almoço - FUTEBOL ON LINE - sobre o total abandono de um dos maiores patrimônios culturais de nossa cidade - o Theatro Avenida.
Para minha satisfação e , tenho certeza, de muito outros pelotenses, acessei a página virtual do Diário Popular e me deparei com uma matéria em destaque sobre o prédio abandonado.
Compartilho com os demais leitores do nosso blog sobre esta situação lamentável daquele prédio histórico.
Parabéns Daiane e a editoria do jornal.
MATÉRIA NA ÍNTEGRA
Theatro Avenida: de point cultural a Mamão com Açúcar
Localizado na avenida Bento Gonçalves, prédio já foi teatro, cinema, danceteria e até igreja; hoje, local encontra-se abandonado, apesar de ter dono
Por: Daiane Santos
As janelas bloqueadas por concreto do Theatro Avenida - localizado na avenida Bento Gonçalves, quase esquina com a Santa Tecla - escondem um passado repleto de vida e história. Apesar disso, a fachada deteriorada do antigo prédio é um sinal da tristeza que tomou conta do lugar, importante centro cultural de Pelotas durante quase todo o século 20.
Construído em estilo art déco na metade da década de 1920, o teatro foi inaugurado em 3 de julho de 1927 com exibição do filme Cavaleiro audaz, estrelado por Buck Johnes, famoso ator da época. De teatro foi transformado em cinema, depois danceteria e por fim em igreja, fechando suas portas em definitivo no início dos anos 2000. Desde então, a estrutura está abandonada, à mercê do tempo.
Um passado marcante
Durante anos a casa de espetáculos intercalou apresentações teatrais com projeções cinematográficas, incluindo sucessos do cinema mudo como a película O filho do sheik, último filme do ator hollywoodiano Rodolfo Valentino, morto em 1926. A Companhia Brasileira de Comédias Álvaro Fonseca também integrou a programação do Avenida com a peça cômica A dama dos cinemas.
Dez anos após a fundação, em 1937, o Theatro Avenida foi transformado definitivamente em cinema, com capacidade para 2.265 espectadores. Ainda assim, shows de mágica e hipnotismo eram comuns em meio às sessões. Lá pelo final da década de 1960, o antigo prédio foi comprado pelo grupo Arcoflex, dono da rede Arco Íris Cinemas, que até hoje é a proprietária do espaço histórico.
Futuro incerto
Sem perspectiva de reforma, atualmente o Theatro Avenida está disponível para locação, conforme um dos proprietários, o empresário Mario Luiz dos Santos. Segundo ele, somente assim a estrutura poderá ser recuperada, já que o grupo não tem interesse em revitalizá-lo. “Em todo o país, os cinemas de rua foram fechando e em Pelotas isso não foi diferente.” Desde 2004, o prédio está fechado e vazio. Móveis e estruturas internas acabaram estragando e foram para o lixo.
Recentemente, surgiram propostas para locação do espaço como casa de shows, no entanto, a possibilidade ainda não foi confirmada. “Temos outros prédios que eram cinemas na cidade e foram transformados em outro tipo de negócio. É a realidade do mercado”, considera Santos, referindo-se ao antigo cinema Capitólio, transformado em estacionamento.
Pelotas cinéfila
Na época em que o Theatro Avenida foi fundado - 1927 - Pelotas tinha aproximadamente 82 mil habitantes e estava entre as oito cidades brasileiras de maior renda municipal. Quando o Avenida foi transformado em cinema, a população pelotense já havia saltado para 120 mil pessoas, segundo boletim estatístico de 1939. Só naquele ano, o teatro exibiu 365 espetáculos, vistos por 127.870 pessoas, ficando atrás apenas do Theatro Guarany com 442 apresentações e público de 260.252.
O Avenida foi um dos primeiros cinemas pelotenses a serem adaptados para exibir filmes em tela larga. Conforme a mestre em Memória Social e Patrimônio Cultural Francine Tavares, mais do que ver filmes ou peças teatrais, naquele tempo as pessoas iam ao cinema ou ao teatro para interagir socialmente, verem e serem vistas. Nesse universo de efervescência cultural e social, teatro, cinema e corridas de cavalos eram as atividades preferidas da população.
Com o passar do tempo e o aumento da concorrência - na década de 1950 Pelotas tinha 12 salas de exibição -, o cine-teatro Avenida começou a perder público. Adquirido pela Arcoflex, o Avenida chegou a ser reformado em 1972, mas a iniciativa não trouxe o retorno esperado. Depois disso, o cinema passou a exibir filmes cuja temática se concentrava em lutas e artes marciais, até projetar suas últimas imagens no dia 30 de setembro de 1984.
O começo do fim do Avenida
Após encerrar as atividades como cinema, novos locatários - Jorge e Eduarda Oliveira - tentaram dar novo fôlego ao Theatro Avenida. No segundo volume da série Pelotas - Casarões contam sua história, a historiadora Zênia de León afirma que a ideia era voltar a usar o espaço como teatro, além de promover a cultura e o lazer na cidade.
Em 1985, um grupo teatral - a Companhia Tragicômica Theatro Avenida - chegou a ser formado, sem muito sucesso. Integrada por Joca D’Ávila, Liliane Duarte, Gê Fonseca, Giorgio Ronna, Carmem Vera e João Bachilli, a falta de incentivo e estrutura acabou atrapalhando a iniciativa. “Ensaiamos umas duas vezes no Avenida e por falta de apoio desistimos”, relembra o atual secretário de Cultura de Pelotas, Giorgio Ronna.
Para ele, o espaço, ao distanciar-se das artes cênicas, se tornou importante centro da cultura pop pelotense. “Vi bandas importantes subirem ao palco do Avenida. Legião Urbana, Blitz e Kid Abelha são apenas alguns exemplos.” A vocação como point musical da cidade se confirmou e o prédio acabou se tornando uma danceteria e casa de shows, por onde passaram bandas reconhecidas nacionalmente.
No dia 12 de junho de 1985, por exemplo, mais de quatro mil pessoas lotaram o Avenida durante o show da banda de rock Paralamas do Sucesso. Iniciavam também os tempos do Mamão com Açúcar, festa realizada nas tardes de domingo voltada a jovens e crianças. Apesar da nova vocação, algumas raras apresentações teatrais ainda ocorriam. É o caso da famosa peça Os saltimbancos, do cantor e compositor Chico Buarque de Hollanda; e do balé folclórico da antiga União Soviética.
Na década de 1990, o local continuou sendo usado para festas e eventos, inclusive como sede de igreja. A primeira metade do século 21 viu nova tentativa de reerguer o espaço, com a realização de shows, porém, o projeto não deu certo e as portas do Theatro Avenida foram fechadas e suas janelas lacradas. Hoje, o prédio encontra-se abandonado e sem muitas perspectivas futuras, assim como vários outros prédios históricos da cidade.
Toca Raul
Em 16 de junho de 1989 o Avenida foi palco do que pode ter sido o último show de Raul Seixas em solo gaúcho. O cantor e compositor morreu no dia 21 de agosto daquele ano, após sofrer uma parada cardíaca em casa. Além deste ícone da música popular brasileira, passaram pelas luzes do Avenida as bandas Ultraje a Rigor, Roupa Nova, Garotos da Rua, Engenheiros do Hawaii; o pianista Artur Moreira Lima e a cantora Emilinha Borba.
E o Sete de Abril?
Até novembro, a empresa vencedora do processo de licitação da segunda etapa de restauração do Theatro Sete de Abril, a Sole Associados - empresa especializada em projetos de espaços culturais - deve finalizar os planos cênicos e de compatibilização arquitetônica do prédio. Orçada em R$ 191 mil, esta fase é a última antes do início das obras finais de restauro que preveem climatização, luminotecnia, recuperação do piso e da infraestrutura interna, dentre outras melhorias. Assim que o projeto for entregue, a licitação para execução das obras deve ser publicada.
Estas devem iniciar no primeiro trimestre de 2015 e receberão R$ 5 milhões do PAC Cidades Históricas. Inaugurado em 2 de dezembro de 1833, o Sete de Abril foi o primeiro teatro construído no Rio Grande do Sul e é um dos mais antigos no Brasil. Tombado como patrimônio histórico nacional, o prédio foi interditado em 15 de março de 2010 por ordem do Ministério Público Federal, após laudo técnico apontando comprometimento estrutural. Desde então, a população pelotense aguarda a reabertura da casa de espetáculos.