MÁRCIO MENASCE
DO RIO
Parentes, amigos e moradores do complexo do Alemão, na zona norte do Rio, prestaram ontem uma homenagem ao jornalista Tim Lopes, assassinado há dez anos por traficantes do local.
Lopes foi capturado e torturado quando fazia uma reportagem para a TV Globo, onde trabalhava, sobre venda de drogas e prostituição infantil em um baile funk da Vila Cruzeiro, uma das favelas do complexo.
A região foi ocupada pelo Exército em 2010 e neste ano começaram a ser instaladas UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) pelo governo do Estado.
Tânia Lopes, 56, irmã do jornalista, instalou um grande varal no campo de São Bento, dentro do complexo, onde cada pessoa podia homenageá-lo pendurando um lenço branco.
"Foi a primeira ideia que eu tive para a data. São 3.653 dias sem o Tim, então tem o mesmo número de lenços no varal. A ideia é que todos possam participar desse momento", disse Tânia.
A mãe de Lopes, Maria do Carmo Lopes, 89, chegou ao Complexo do Alemão bastante emocionada. Maria do Carmo disse que ainda tem medo da violência no Rio: "Tenho muitos filhos e netos e tenho muito medo por eles".
O secretário de Segurança do Estado, José Mariano Beltrame, foi um dos que penduraram um lenço branco para o jornalista.
"O trabalho do Tim Lopes mostrou que a sociedade e as autoridades precisavam se convencer de que o poder paralelo só separa a cidade. Se não ocuparmos essas áreas, o processo de paz fica muito mais difícil", disse.
Na noite anterior, um confronto entre traficantes e policiais de uma UPP mostrou que a região ainda não está sob controle total do Estado.
"Não podemos achar que o tráfico vá sair de uma hora para outra. Mas a polícia vai continuar aqui trocando informações de inteligência e prendendo os remanescentes", disse Beltrame.
Todos os acusados de matar o jornalista foram condenados pela Justiça, incluindo Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, chefe da quadrilha. Um dos acusados, Elizeu Ferreira de Souza, o Zeu, fugiu durante uma visita à família em 2007 e foi recapturado em 2010, quando o Exército entrou no Alemão.
Para Miro Lopes, 65, irmão de Tim e também jornalista, a morte de Tim foi o ponto de partida para uma mudança radical na política de segurança pública do Rio.
"Nunca há justiça para a morte de um inocente, mas com a condenação dos assassinos, a família e a sociedade receberam do estado uma espécie de satisfação merecida", afirmou.
A Secretearia de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos aproveitou a homenagem a Lopes e organizou no Campo de São Bento a ação social Cidadania é Direito de Todos, oferecendo diversos serviços à população. Os moradores puderam, por exemplo, tirar a carteira de identidade, carteira de trabalho e receberam assistência dentária e orientação sobre a prevenção da dengue.
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