Jéssica Lipinski, do Instituto CarbonoBrasil
Muitas pesquisas indicam que as mudanças climáticas têm sido responsáveis pelo derretimento de geleiras em várias partes do mundo, o que pode estar contribuindo para a elevação do nível do mar, que já atinge diversos países litorâneos, prejudicando sua população.
Mas um novo estudo da Universidade de Grenoble, na França, sugere que nem todas as geleiras do mundo estão derretendo diante deste fenômeno climático. Segundo a pesquisa, publicada neste domingo (16) na Nature Geoscience, uma análise feita na cordilheira de Karakoram, que não faz parte do Himalaia mas muitas vezes é considerada como tal, revelou que essa cadeia está ganhando gelo.
“O resto das geleiras no Himalaia estão em sua maioria derretendo, naquelas há um balanço de massa negativo; aqui descobrimos que as geleiras não estão [derretendo]. Esse é um comportamento anômalo”, descreveu Julie Gardelle, da universidade francesa.
O estudo foi desenvolvido a partir da análise por computador de fotos da cordilheira tiradas por satélite. As fotos, feitas em 1999 e 2008, foram examinadas em dois modelos computacionais, que revelaram a elevação das geleiras e estimaram a extensão do gelo.
Por enquanto, os cientistas ainda não sabem dizer por que razão o Karakoram apresenta esse processo diferente em comparação com outras geleiras. “Por enquanto não temos nenhuma explicação. Houve um estudo relatando um aumento na precipitação de inverno, isso poderia ser uma razão, mas é apenas um palpite”, comentou Gardelle.
O que os pesquisadores puderam concluir, por enquanto, é que nem todas as geleiras se comportam da mesma forma em relação às mudanças climáticas, e por isso, os processos observados em uma não podem ser estendidos a outras.
“Nossa conclusão de que as geleiras do Karakoram tiveram um pequeno ganho de massa no começo do século 21 indica que as geleiras centrais/orientais não são representativas de todo [o Himalaia]”, observaram.
“Em nosso mundo em aquecimento, há regiões na Terra onde, por poucos anos ou décadas, a atmosfera não esteve esquentando, ou esteve mesmo esfriando. Então não é realmente uma grande surpresa que haja algumas regiões onde a temperatura não esteja aumentando e o Karakoram pode ser uma dessas”, completou Gardelle.
A equipe ressaltou, portanto, que esse comportamento não é visto em todas as geleiras, e nem isso significa que o aquecimento global não esteja ocorrendo de fato. “Não queremos que esse estudo seja visto como questionador do aquecimento global. Com o aquecimento global podemos ter uma precipitação maior em grandes altitudes e latitudes, então o espessamento não está fora de questão”, explicou a cientista.
(Instituto CarbonoBrasil)
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