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segunda-feira, 17 de novembro de 2014

A NUDEZ ESTÁ EM ALTA

Nudez em público pode ficar mais comum no futuro, diz sociólogo
Para Gustavo Gomes da Costa, corpo carrega conteúdo político.
Já naturista diz que 'pelados do RS' não têm a ver com a sua prática.


Homens ou mulheres andando ou correndo sem roupas pelas ruas pode ser uma cena ainda mais comum em um futuro próximo. A prática vem chamando a atenção em Porto Alegre e levanta a questão sobre o uso do corpo como ferramenta de expressão. Para o sociólogo Gustavo Gomes da Costa, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), "no futuro é bem provável que a nudez seja cada vez mais usada", disse.

Costa, que se dedica entre outras áreas, a estudar sexualidade e gênero, diz que a sociedade brasileira ainda olha a nudez como algo transgressor. "A primeira coisa a dizer é que em nossa sociedade a nudez tem um lugar muito específico, o de ser castigada. A exposição do corpo é vista como algo negativo. Obviamente, isso precisa ser relativizado. Por exemplo, no carnaval a nudez feminina é valorizada. A nudez em carro alegórico não choca, é um instrumento de transgressão cultural. Mas toda e qualquer outra nudez pode ser vista como transgressora."


Mais habituada a viver nua, Carina Mareschi é adepta do naturismo e acredita que o que está acontecendo é a tentativa de "chamar a atenção, uma forma de protesto". Para ela, a nudez que tem se visto na capital gaúcha difere da que é praticada pelos naturistas. "Nossa prática é feita onde a nudez é permitida, em locais convencionados. Não fazemos atos em público. O que está acontecendo não tem relação alguma com a filosofia do naturismo."
Para ela, a "os naturistas praticam a nudez sem agredir o outro, em contato com a natureza, respeitando a si mesmo e o meio ambiente. Vai além da nudez e despe, também, os preconceitos e amarras sociais. Certamente muitas pessoas, principalmente as que desconhecem a nossa filosofia, vão associar estes casos com o naturismo, porém a distância entre eles é enorme. Nosso objetivo não é protestar", disse Carina.


O sociólogo afirmou ainda que a "nudez é usada como forma de manifestação política" e cita feministas e movimentos LGBT como os que mais usam o corpo com propósitos específicos. "Para quem é mais fundamentalista, o corpo pertence ao Estado por conta da legislação vigente, da religião. A dimensão do corpo e a nudez ganham força em espaços públicos, não posso dizer que isso ocorra nos casos recentes. A sociedade é repressora contra a nudez. Durante muito tempo vendemos a ideia de que o Brasil é liberal, que vivemos em um país tropical, que temos liberdade de costumes. Isso é um mito."

Segundo Costa, "cada vez mais grupos sociais têm questionado se o país reprova ou não a nudez. As pessoas lutam por mudanças e querem ter direito a fazer topless nas praias do Rio de Janeiro. Lá, por exemplo, já está havendo mudanças em legislação, o que permite a prática". Para Carina, "os meios de comunicação e as redes sociais estão se tornando grandes aliadas do naturismo porque o assunto está em evidência. Antigamente as pessoas desconheciam a nudez dessa forma, mas agora é diferente. E isto só ajuda a desmistificar e atrair novos adeptos."

Foram três casos na capital gaúcha nos últimos 12 dias, dois deles no domingo (9). Uma mulher foi fotografada correndo apenas de tênis e boné por ruas do Centro da capital gaúcha horas antes de uma “corrida pelada” ser convocada pelas redes sociais. O evento acabou com a caminhada de apenas um homem nú.

No dia 30 de outubro, o primeiro caso foi registrado no Parque Moinhos de Vento, o Parcão, quando uma mulher praticou corrida nua até ser detida pela Brigada Militar. Uma semana depois, a lutadora de MMA que se identificou como Betina Baino repetiu a cena ao percorrer pelada um longo trecho da Terceira Perimetral em meio à chuva e aos carros.


A naturista Carina acredita que os casos recentes de nudez pública fizeram com que o naturismo voltasse a ser assunto na mídia e, principalmente, nas redes sociais. "Hoje a nudez já é tão comum que podemos ver até em propagandas em televisão. E isto só ajuda a desmistificar e atrair novos adeptos ao naturismo. Eu não vejo os episódios de Porto Alegre como algo negativo para nós. Eu vejo como mais uma chance de abordarmos a filosofia e de conseguirmos mostrar a verdadeira face do naturismo. A informação, que gera conhecimento, é tudo numa sociedade como a nossa."

O sociólogo disse que as redes sociais podem ser o verdadeiro motivo da nudez pública em alguns casos. "Existe a lógica das redes sociais, da internet, onde algumas pessoas buscam seus cinco minutos de fama."

Nudez demonizada
Para o professor de direito e advogado criminalista Leonardo Pantaleão, a nudez pode, "conforme o caso, ser capitulado no Código Penal Brasileiro como ultraje público ao pudor. Se a nudez for considerada obscena, a pena é leve e varia de detenção de 3 meses a 1 ano e pode ser reversível em multa." 

Para se enquadrar como crime, a nudez precisa atingir quem está ao redor do ato praticado sem roupa. "O delito de ultraje ao pudor ocorre desde que seja obsceno, se o entorno se sentir ofendido. Dá para fazer um paralelo com as praias de nudismo, que estão sujeitas à mesma lei, mas há uma convenção entre as pessoas que lá frequentam. A nudez tem de se adequar à lei. É delito se atingir o bem jurídico protegido, como a moralidade pública. Aí é ato obsceno."

Pantaleão explicou que nem todo flagrante de nudez demanda processo. "Tecnicamente, não é o caso de registro de Boletim de Ocorrência, mas de Termo Circunstanciado, que serve para crime de menor poder ofensivo. A pessoa não responderia a processo penal, tendo em vista que o Ministério Público decidiria pelo cumprimento da penalidade, em multa, antes mesmo de abrir processo penal. Isso ocorre pela fragilidade da pena."

O sociólogo Gustavo Gomes da Costa disse que "a nudez é demonizada no país, mas precisa ser demonizada? A nudez é tão assustadora assim? Não sei se a nudez faria sentido em mobilização, por exemplo, de operários pedindo aumento salarial, mas em outros, sim".

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