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domingo, 8 de julho de 2012

PELOTAS 200 ANOS - Os bondes na cidade


A novidade no Rio Grande do Sul
Zênia de León

Reportemo-nos de início aos primeiros bondes, ao tempo em que não havia energia elétrica na cidade. Um contrato firmado entre o presidente da província, conselheiros da Companhia Ferro Carril e Cais de Pelotas, os diretores João Frederico Russel, Francisco Figueiredo e Manoel Marques de Sá, tratava de um serviço de transporte coletivo urbano. A firma concessionária se comprometia a instalar em todas as vias de limite urbano e seus subúrbios, linha de carris de ferro, tanto para passageiros como para carga, por tração animal ou a vapor. O sistema seguiria o modelo usado no Rio de Janeiro e Jardim Botânico, e duraria 50 anos, com repasse de 3.000$000 destinado às obras.

Os bondinhos à tração animal serviram à desenvolvida Pelotas. Os trilhos passavam em frente à intendência e à biblioteca Pública.

Foi em 9 de novembro de 1873 que os bondes foram entregues ao público. Uma novidade. Agora, nem só as carruagens levavam as pessoas pela cidade. Aqueles burrinhos pachorrentos fizeram trafegar as viaturas sobre os trilhos durante mais de vinte anos até que se cogitou da substituição por bondes elétricos. Na foto, os trilhos que passavam em frente à intendência e à biblioteca Pública, esta então com um andar somente, e os bondinhos eram a base do novo transporte. O sistema de transporte serviu à cidade por 42 anos e a Rio Grandense Light & Power Syndicate LTD, registrava em Londres, em 17/05/1912, que havia instalado a iluminação pública elétrica em Pelotas, em 1914, iniciando a construção da primeira linha de bondes elétricos junto a empresa argentina Buxton, Cassini & Compañia, de Buenos Aires, que começou a funcionar em 29 de outubro de 1915.

Os bondinhos à tração animal na histórica e saudosa entrada do parque Souza Soares, no Fragata.

Fato interessante ocorreu quando a princesa Isabel em visita a Pelotas, em 1885, passeou com seus dois filhos em um bondinho puxado a burros. Como em todo o lugar por onde andava a nobre senhora, faziam-se manifestações de simpatia e às vezes um tanto exageradas. Os pelotenses, dados a homenagens, não fizeram diferente. Ornamentaram o bondinho com flores para os reais passageiros que os levaria ao parque Sousa Soares, o primeiro centro turístico do Rio Grande do Sul.

Bondes assim circularam em Pelotas até 1955
  
O bonde  tipo Imperial que circulou em Pelotas a partir de 1915.

O bonde de dois andares entrando no parque Souza Soares, apinhado de gente

Os bondes de dois andares implantados em Pelotas, segundo pesquisador Allen Morrison-Londres, foram possivelmente os maiores já operados no Brasil, maiores que os ”Imperiais” de Porto Alegre quando, em março de 1920 a RGL&RS encomendou dois bondes de dois andares Birney, que foram os menores já operados no Brasil.
A Pelotas Tramways Co., que operou o sistema para RGL&PS, foi adquirida pela Eletric Bond & Share, atou em Pelotas com o nome de Empresa Elétrica Rio Grandense.
Em 1922, os bondes de dois andares foram reconstruídos como veículos de um andar apenas - Morrison-Allen, New York.

O fornecimento de energia elétrica ocorreu depois de uma negociação com a The Riograndense Light & Power S.l., somente em 27 de agosto de 1915, quando os bondes chegaram via fluvial, pelo vapor Itaqui, contendo 28 volumes e logo se deu a inauguração, a 16 de outubro, com bondes repletos de gente que fizeram o percurso da Estação Férrea, pela rua D.Pedro II, até a rua 15 de Novembro. 

Uma festa! 
O público, já cansado do que chamavam de lerdos, obsoletos e desprezíveis bondes puxados a burrinhos, satisfaziam-se contentes pelos modernos e higiênicos bondes, deslumbrando-se com o ruído sonoro do sininho que tocava. A inauguração propriamente dita ocorreu em 20 de outubro daquele ano com 114 viagens, transportando 3.794 pessoas, a 200 réis cada uma. 
Nesse início, trafegavam cinco bondes da fábrica “Brush”, tipo fechado, e outros três tipo “Imperial”, de dois andares. Estes últimos faziam a linha Fragata, o bairro mais populoso e movimentado da cidade pela presença do prado, do cemitério, do parque Ritter com suas retretas aos domingos e o seu “bosque Champs Elisée”; do parque Souza Soares, a maravilha de recreação para toda a família. Era lá que se realizavam retretas com algumas bandas civis, sendo que a Banda Democrata usava um bonde especial no qual colocara-se uma enorme figura de lira na fachada. 

Tudo era festa. 
Tardes movimentadas obrigavam um leva-leva e um leva e traz gente quando os bondes serviam incessantemente aquela mania de se divertir. 
A implantação dos bondes se deve também ao intendente Cipriano Barcellos e as linhas foram se ampliando por todos os bairros.: 
Linha do Porto, entre extremos Porto, praça Julio de Castilhos (parque D.Antônio Zattera), nos dois sentidos; 
Linha Fragata - Bondes Imperial- de dois andares entre praça da República (Cel.Pedro Osório), e Fragata, na estrada do Salso e vice-versa. Nesta linha, os bondes faziam todo o percurso indo até dentro do parque Pelotense; 
Linha Três Vendas, da mesma praça central e a Casa Wickboldt, o ponto terminal da primeira estação da linha número 5, conforme assegurava o contrato. 
E havia a Linha Areal que descia a rua Rafael Pinto Bandeira, fazendo curva na rua Dr. Fagundes, dobrando na Av. Domingos de Almeida, até imediações da cacimba das Nações, o fim da linha. 
Havia famílias inteiras que usavam o bonde aos domingos no verão para irem à “prainha”, costa do arroio, à direita da ponte, pela estrada da Costa, além da desativada charqueada de Domingos de Almeida. O sitio do Laranjal ainda não tinha sido aberto ao povo.

Os bondes:
3 carros motores Imperial - de 15 toneladas
-Dois andares;
3 carros transformadores semi-imperial
5 carros Bush de 11 toneladas; 
6 carros reboques; 1 plataforma; 1 zorra a motor.

Os carros eram distribuídos da seguinte forma:

Linha do Porto - 3 carros em cada sentido; Linha Três Vendas - 2 carros em cada sentido; 

Linha do Parque e Fragata - 3 a 4  carros. Além dessas linhas, obedecendo a horários especiais, um carro circular e Estrada de Ferro, quando se observava excesso de passageiros. 
Criou-se uma linha de bondes que se deslocava da usina até ao Clube de Regatas Pelotense, pois intensificava-se a freqüência desse clube fundado em 1875 (Pelotas,casarões contam sua história-3º Volume, de León-Zênia), com torneios de barco e natação. 
Linhas auxiliares e ramais como a linha que passava em frente ao teatro Guarani para o público dos bairros que vinha para os espetáculos. O que entendemos é que os bondes serviam e atendiam às necessidades da população, representando grandes expectativas de crescimento, modificando o aspecto da urbe. Aquele barulho de rodas sobre os trilhos era gostoso pois representava progresso e vida. 

O povo vivia satisfeito e feliz com os transportes. Não havia acidentes, nunca se ouviu falar em mortes no trânsito. 

Veja o leitor o entrevero de veículos na foto que segue abaixo, sem leis de trânsito, que não as havia: são bondes e carroças ainda pessoas no meio da rua. Tudo muito tranqüilo
  
Ao fundo à direita, o bonde de dois andares que fazia a  linha Fragata, atravessando pela rua Mal.Floriano.A foto é uma reprodução de um cartão postal impresso pela Livraria Universal, de Echenique & Cia.


Rua 15 de novembro, esquina Floriano.
Observe atentamente os detlhes.

Á esquerda da foto, observe-se a traseira do bonde de dois andares. Em destaque a escada em caracol por onde os passageiros subiam, e o balcão/retaguarda, onde se encosta o fiscal de uniforme branco. Esquina Mal.Floriano com rua 15 de Novembro,em frente à residência do Sr. Antônio Assumpção. Na calçada oposta, a Casa Coate (Hoje está o Banco Itaú) com um sistema de publicidade sobre a platibanda que anunciava “HOJE GRANDES FESTAS no S.C. PELOTAS”.

O Bonde de dois andares vinha do Fragata pela rua Mal.Floriano e parava na rua 15 de Novembro. Dalí voltava para o bairro novamente. Carruagens de aluguel aguardavam passageiros ao lado da praça. Eis uma cena comum.

“O sistema de bondes foi encerrado em abril de 1955, não deixando vestígios físicos na cidade” (Carlos Pimentel-História dos bondes). Tem-se noticia de que em certo tempo o Clube Gonzaga exibia em seus jardins um exemplar de um bonde que, aos poucos, por falta de manutenção deteriorou-se, não restando nada que memória e saudade.
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                                                              ZÊNIA DE LEÓN - Escritora/pesquisadora.



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