Programa que usa tecnologia 3D foi criado por pesquisadora da Psiquiatria
Mariana Lenharo
Estadão
O Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP (IPq-HC) começou a testar este mês um tratamento inédito contra fobia social que usa como ferramenta terapêutica a realidade virtual.
Com um programa de computador que traz imagens em três dimensões, os pacientes se submetem virtualmente às situações sociais que mais lhes trazem desconforto: interagem com desconhecidos, participam de reuniões e até discursam diante de uma plateia dispersa.
A criadora do programa é a psicóloga Cristiane Maluhy Gebara, pesquisadora do IPq, que agora busca validar a eficácia da técnica em um grupo de pacientes. "Estamos aplicando em algumas pessoas para aperfeiçoar esse programa e verificar se ele realmente consegue diminuir a ansiedade das pessoas", diz. O desenvolvimento operacional do software ficou a cargo de uma empresa especializada, que concluiu o programa sob as orientações de Cristiane.
Ela explica que o trabalho tem como base uma das ferramentas da terapia cognitivo comportamental (TCC): a técnica de exposição. A princípio, ela pode ser feita ao vivo, quando o paciente se expõe a situações reais que lhe provocam desconforto, ou na imaginação, quando o paciente, sob a orientação do terapeuta, imagina determinada cena e tenta controlar suas reações.
A ferramenta virtual permite que essa exposição se dê com um grau maior de realismo, mas no ambiente do consultório, ao lado do terapeuta. "A gente coloca a pessoa, passo a passo, na situação que ela mais teme, gradualmente: da que menos sente desconforto, para a que mais provoca ansiedade. Depois que o paciente finaliza, percebe que a ansiedade declina conforme progride essa exposição", diz Cristiane. O programa todo consiste em 12 sessões de 50 minutos.
Além de orientar o paciente, o terapeuta também controla, por meio do computador, as respostas dos personagens virtuais, que interagem com o fóbico. Cristiane alerta que, por esse motivo, essa é uma técnica para ser aplicada em consultório e não em casa, com o paciente sozinho. Segundo a pesquisadora, mesmo se tratando de uma interação fictícia, ela provoca no paciente reações semelhantes às que ocorreriam na vida real. “O programa permite uma imersão naquele mundo.”
As situações de interação social previstas no programa vão desde uma simples caminhada pela rua em que o paciente se submete aos olhares insistentes dos outros transeuntes, passando por um pedido de informação para um desconhecido, até a chegada a uma festa cheia de gente. Tratam-se de ocasiões comumente temidas pelos fóbicos.
Cristiane observa que, fora do país, a técnica da realidade virtual com fins terapêuticos já é bastante utilizada. Sua intenção foi adaptar o procedimento para o Brasil, barateando os custos e simplificando o equipamento, que consiste apenas de um laptop, óculos de terceira dimensão e um fone de ouvido. Ao final da pesquisa, caso a terapia se mostre realmente eficiente, a ideia é fornecer o programa para outros terapeutas e instituições interessadas em aplicar a técnica.
A fobia social é caracterizada por um sofrimento excessivo em situações de interação social ou de desempenho. Alguns dos sinais mais evidentes são palpitações, sudorese e ruborização. Enquanto a grande maioria da população sente ansiedade quando tem que falar em público ou conduzir uma reunião - o que pode ser considerado normal - o fóbico sofre um verdadeiro prejuízo em sua vida pessoal e profissional por conta desses medos. Outras características típicas são o medo da avaliação negativa do outro, o medo de cometer um erro e a autodepreciação.
Quem tem os principais sinais de fobia social, com idade entre 18 a 65 anos e não apresenta outros transtornos psiquiátricos pode se inscrever para a seleção de voluntários para participar da pesquisa pelo e-mail fobiasocialrv@gmail.com
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