No Distrito Federal os brinquedos não podem mais ser fabricados e comercializados; Um projeto semelhante tramita no Congresso Nacional para atribuir a todo o país
Estão proibidas a fabricação, a venda e a distribuição de brinquedos que tenham qualquer associação com armas de fogo, no Distrito Federal. Mesmo as armas coloridas ou as que servem para soltar inocentes bolinhas de sabão não podem ser vendidas desde segunda-feira (23). O prazo para adaptação das lojas é de um ano. Depois disso, as que não acatarem a decisão podem sofrer multas pesadas.
Uma proposta semelhante tramita no Congresso Nacional. Se aprovada, valeria para todo o Brasil. A discussão sobre violência na infância já é antiga e envolve não só os brinquedos, mas também os jogos e as brincadeiras do dia a dia.
Para o professor do curso de Direto da Universidade Católica de Pelotas (UCPel) Luís Antônio Chies, decisões como esta podem gerar um impacto positivo. "Não sei da existência de um estudo mais específico sobre a influência destes brinquedos na incidência da violência, mas iniciar a discussão é sempre válido", explica.
Para ele, a retirada dos brinquedos deste tipo do mercado não acabará com a cultura da violência, que vem desde as relações entre mocinhos e bandidos, por exemplo. "Porém, ao retirar do contexto da brincadeira o uso da arma de fogo, o cenário favorece uma mudança de atitudes", diz.
Apesar de ver o projeto como positivo, o professor faz uma ressalva: apenas proibir as armas não é o suficiente. "Proibir a venda de armas de brinquedo não proíbe o porte de armas de brinquedo. Aqui na região, qualquer pessoa poderá ir a Rio Branco, por exemplo, e comprar uma arma para seus filhos. A iniciativa é positiva no sentido de fomentar a discussão, na tentativa de mudança cultural, que vai muito além", finaliza.
A psicóloga Maria Lúcia Ramalho concorda que a decisão pode ajudar a diminuir comportamentos violentos, mas sozinha não é a solução do problema. "É preciso que se realize todo um trabalho no ambiente em que a criança vive", afirma. Envolver toda a família e a escola, para ela, é fundamental.
A profissional explica que existem fases da infância nas quais as crianças precisam de brincadeiras mais ativas. "Mas brinquedos agressivos não são necessariamente a solução. Os esportes são uma ótima alternativa para liberar a energia acumulada", diz.
A proprietária de uma loja de brinquedos no Centro de Pelotas, Leila Karine, diz que todas as armas que vende são plásticas, coloridas. Para ela, a associação direta com arma de fogo não existe. "São brinquedos que vendem bem, mas acredito que se forem proibidos, serão criados outros semelhantes para substituir", opina.
Na loja, por a partir de R$ 29,90 são encontrados brinquedos que disparam luzes, água e pequenos dardos de espuma. Na embalagem, nenhuma menção a armas. Eles são chamados de lançadores e estão disponíveis nos mais diversos tamanhos. Nenhum deles tem a aparência de uma arma de verdade, mas isso não é motivo para que os pais discordem do projeto de lei.
Francine Rodrigues Fernandes, mãe de Micaela, de dez anos, e Daniel, de seis anos, conta que os brinquedos que lembram situações violentas não entram em sua casa. "Meu filho vê nas lojas e às vezes se interessa, mas nunca chegou a me pedir, pois sabe que é uma coisa que eu não compraria", conta. Ela se diz a favor do projeto, pois acredita que ele ajudaria a conscientizar outros pais.
Elaine Marques Dias, mãe do pequeno Lorenzo, de dois anos e oito meses, concorda. "Desde pequenas as crianças sabem o que são os objetos e pra que eles servem. Então, não é bom estimular." Ela conta ainda que, mesmo se permitisse a entrada de armas de brinquedos em casa, Lorenzo não se interessaria. Ao entrar na loja, ele foi direto à procura de violões e guitarras. "O negócio dele é música", finaliza.
Brinquedo também é utilizado em crimes
Em julho, um homem foi preso com uma arma de brinquedo no centro de Pelotas, tentando roubar um jovem de 20 anos. A Brigada Militar (BM) desconfiou do comportamento dos dois e os abordou. E.M., 32, ameaçava a vítima com o brinquedo e já estava com o casaco de G.S.I.C.. Na hora da abordagem, ele tentava roubar a bicicleta do jovem.