Ranking do Banco Mundial coloca Brasil na 116ª posição de melhores lugares para se abrir um negócio
O relatório anual Doing Business do Banco Mundial colocou o Brasil no 116º lugar entre os países que apresentam melhores condições para a vida de um empreendedor. Apesar de ter subido algumas colocações, já que, no ano passado, ocupava a 130º posição, o posto não é bom. O ranking, feito com 189 países, mostra que há muito para ser melhorado.
De acordo com a pesquisa, são necessários 13 procedimentos para se iniciar um projeto no Brasil. Em Singapura, o primeiro lugar em facilidades segundo o Banco Mundial, são três procedimentos. Se apenas um brasileiro cuidasse dos impostos de uma empresa, o funcionário gastaria 2.600 horas para isso, enquanto em Singapura 82 horas são suficientes. Segundo o relatório, o problema não se restringe apenas às leis, mas também se situa na capacitação dos trabalhadores. "Considere o Brasil, onde a indústria da construção tem expressado forte e crescente demanda por inspeções baseadas na análise dos riscos. No entanto, por conta de um quadro legal fraco e pela pouca disseminação de uma metodologia de avaliação de risco, somente São Paulo foi capaz de implementar um sistema - e ele permanece limitado. Muitos profissionais não tinham conhecimento suficiente e não foram bem treinados", conclui o documento.
Um obstáculo unânime para os pequenos empresários é a burocracia. Segundo Daniela Longobucco, da área de Empreendedorismo da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), o processo para a abertura de uma empresa é moroso. "Em outros países, os empreendedores conseguem abrir em horas e pela internet. O governo precisa criar mecanismos para melhorar esse cenário", diz. E o governo já colocou em prática algumas ações para facilitar o caminho não só das microempresas, mas também das pequenas, médias e grandes. A Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios é uma delas. Conhecida como Redesim, é um sistema que faz a integração de todos os processos responsáveis pelo registro, inscrição, alteração e baixa de empresas por meio de uma única entrada de documentos. Infelizmente, nem todos os municípios do país adotaram o processo ainda. Após ser totalmente implantada, a rede permitirá o funcionamento imediato das empresas que não são consideradas de alto risco. Estima-se que elas correspondam a mais de 70% do total de sociedades em funcionamento no país.
A falta de um critério maior para diferenciar empresas de alto e baixo risco também prejudica o processo. Segundo Juliana Lohmann, analista do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) do Rio de Janeiro, é preciso rever as exigências requisitadas a cada negócio. “Investimentos de baixo risco não precisam cumprir todas as exigências de um de alto risco. Uma padaria, por exemplo, não deveria se submeter à mesma quantidade de condições que um posto de gasolina. Se essas exigências forem definidas, uma triagem já se cria”, sugere. Juliana atenta ainda para a dificuldade que uma empresa enfrenta para se manter enquanto espera a abertura do negócio. “Precisa-se de fôlego. Se são necessários 180 dias para conseguir a licença, vai ser preciso esperar seis meses pagando aluguel sem ter nada entrando no caixa ainda. Muitas vezes até os funcionários já foram contratados”, diz. O problema se estende às dificuldades que uma pequena empresa enfrenta para se manter no mercado. “Conseguir bons fornecedores e bons compradores é necessário. Muitas vezes, ele [o empresário] tem apenas um fornecedor e se, por algum acaso, deixa de fornecer, um dia de trabalho é perdido”, explica.
A capacitação dos profissionais é vista igualmente como uma dificuldade. Segundo Daniela Longobucco, da área de Empreendedorismo da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), é necessário um trabalho de base desde o começo da educação. "É preciso trabalhar o empreendedorismo na escola cada vez mais cedo, na formação de uma postura para vida profissional. Empreendedores são pró-ativos, inovadores, criativos, persistentes e têm atitude. Apostando nisso, com certeza o indivíduo estará preparado para a universidade e as empresas terão mais chance de se perpetuar", explica.
Os obstáculos são muitos, mas há também incentivos. Diversos programas atuam no mercado como fomentadores de pequenos negócios. A Firjan recrutou mais de 200 jovens alunos do Sesi e do Senai para que virassem empreendedores. O projeto “Desafio na Real” propõe que eles pensem em soluções para problemas que afetam a escola e vendam sua idéia em cinco minutos. Já a Puc-Rio mantém o Instituto Gênesis, uma unidade complementar da universidade focada em formar empreendedores. Como uma espécie de incubadora de projetos, conta com a colaboração do Consórcio do Desenvolvimento, órgão consultivo formado por instituições parceiras. Eventos e feiras também não faltam. Realizada anualmente em diversas cidades do país, a Feira do Empreendedor, promovida pelo Sebrae, é um exemplo que estimula o surgimento, ampliação e diversificação de empreendimentos sustentáveis. A próxima cidade em que a feira estará será o Rio de Janeiro, entre os dias 28 de novembro a 01 de dezembro.
Jornal do Brasil