Pierre Dukan defende dieta da proteína e diz: 'açúcar é o perigo'
No Brasil para divulgar novo livro, polêmico médico rebate as críticas afirmando que indústria do açúcar está vilanizando a proteína
RIO - O médico nutrólogo francês Pierre Dukan virou sensação com sua dieta rica em proteínas e legumes. Seus livros venderam 11 milhões de cópias e seu método atraiu 36 milhões de adeptos, incluindo personalidades como Jennifer Lopez e o presidente da França, François Hollande. Em 2011, contudo, a dieta foi apontada pela agência nacional de alimentos francesa como uma das 15 mais desequilibradas e arriscadas. A Associação Dietética Britânica a classificou como uma das cinco piores de 2011. Para muitos nutricionistas, as recomendações de Dukan fogem do bom senso.
Mas, no Brasil para divulgar seu novo livro, “Confeitaria Dukan”, que traz 100 sobremesas inventadas especialmente para a sua dieta, o médico defende seu método. Ele afirma que as críticas a sua dieta foram turbinadas por um lobby da indústria do açúcar, que tenta "vilanizar" a proteína.
A sua dieta é famosa por combater açúcar e doces. Seu novo livro, porém, traz receitas com sobremesas. Não é uma contradição?
Eu trabalho desde 1970 com meu método. Nessa época, os regimes eram mais difíceis, ainda não haviam inventado edulcorantes, adoçante, aspartame e agarose. Nem mesmo o iogurte com zero por cento de gordura existia. Hoje, temos estes produtos que nos ajudam a fazer milagres, sobremesas que não fazem mal. Temos o farelo de aveia, que é um produto milagroso. O livro ensina a fazer sobremesas com esses ingredientes.
Desde que o senhor começou a desenvolver seu método, há mais de 30 anos, houve muitas mudanças?
Muito pouco. Permito aos pacientes consumirem 72 proteínas e 28 legumes, e peço para que comam livremente. Eles podem comer o quanto quiserem de proteína e, de legumes, o tanto quanto puderem. Por isso digo que a chave do meu regime não é a proteína e sim os legumes. Até porque ninguém consegue comer muita proteína. Com um grande bife já ficamos satisfeitos. Já os legumes têm açucares lentos, muita fibra, vitamina e sais minerais. Todo mundo diz: “Dukan é proteína”. Não. É proteína e legumes, e eu diria que é mais legumes do que proteína. E isso a difere de outros métodos como o Atkins.
Uma pesquisa na França, realizada por grupos de saúde, feita com cinco mil mulheres adeptas da sua dieta, revelou que 80% delas retomavam o peso inicial depois de quatro anos.
Este estudo foi feito em condições muito livres de inscrição. A inscrição era feita pela internet, qualquer um podia se inscrever e quantas vezes quisessem. Mas, apesar destas condições, considero o estudo válido. Depois de cinco anos, 20% de pessoas não engordaram. Se pegarmos todos os estudos do mundo, com outras dietas, fica em 3%. Como os responsáveis pela pesquisa estavam contra mim, menosprezaram o resultado, como se fosse um número ruim. Para mim, no entanto, é um milagre. Porque se você não engordou em cinco anos, não engordará mais, está curado. E curar 20% de pessoas, impedir que elas morram, que fiquem doentes por causa do sobrepeso, é um resultado admirável.
Desde o nosso nascimento nos dão produtos que engordam: açucares, chocolate, lanches... E aí precisamos ser medicados. O que acontece é que existem pessoas com interesses, que querem defender o seu negócio, e por isso tentam frear o progresso.
A Agência nacional de saúde francesa criticou seu método, que, segundo eles, traz riscos clínicos. Estudos recentes também apontam que dietas ricas em proteínas aumentam a mortalidade...
Vamos pegar o exemplo da insuficiência renal. Cinquenta por cento das doenças renais são infecciosas. São micróbios que atacam os rins. Outros 50% são causadas pelo açúcar. Ou seja, são nefroses diabéticas. O alimento mais terrível para rim é o açúcar. E os comerciantes de açúcar espalharam o boato de que as proteínas eram prejudiciais, o que é totalmente falso. É uma mentira para que não se fale do mal causado pelo açúcar. Tenho um estudo com 60 pessoas que possuem apenas um rim, seja por malformação genética ou por ferimentos. Acompanhei estas 60 pessoas todas as semanas, durante 30 anos, e meu método nunca causou problema para nenhuma delas.
Então existiria um lobby da indústria do açúcar por trás dessas teorias?
Com certeza.
E quanto aos médicos?
Na França, assim como no Brasil e outros países, os clínicos gerais não conhecem muito bem a nutrição. E há duas categorias de nutricionistas. Primeiro, os que têm o seu método. E é claro que quando surge um livro vendendo milhões e propondo outros métodos, eles ficam incomodados. A outra categoria é a daqueles que trabalham para as grandes empresas de doces, que fabricam produtos com açúcar. Muitos são consultores. Para mim, porém, o açúcar é o perigo. E um regime que mantém o açúcar, é perigoso.
Mas em relação a outros efeitos colaterais?
Eu defendo meu método como o melhor de todos. Nunca nenhum paciente me disse ter problemas nos olhos, nos rins, no coração, nada... São pessoas que tinham problemas de sobrepeso, e agora não têm mais. Mas há, sim, pequenos efeitos colaterais, efeitos indesejáveis. A constipação, que acontece na primeira semana; o hálito forte, que pode acontecer quando se emagrece muito rápido; e um pouco de fadiga. Perdemos um pouco de vitamina C no começo. É por isso que recomendo farinha de aveia para evitar a fadiga, porque é um alimento com açúcares muito lentos. Fora isso, não conheço nenhum problema. Quando você corre, você sua, certo? São efeitos normais. E, perto da montanha de problemas causados pela diabete e pelo sobrepeso, não é nada.
A sua dieta é rica em proteína animal magra. Mas pesquisadores que acompanharam adultos por mais de duas décadas nos Estados Unidos publicaram recentemente um novo estudo sugerindo que uma dieta rica em proteína animal, na meia idade, quadruplica o risco de morte por câncer...
Primeiro, já foi comprovado que os pesquisadores deste estudo têm ações em empresas que fabricam doces, e que são contra a proteína. Mas acredito que o próprio método da pesquisa é desonesto. Eles acompanharam pessoas que comeram mais proteínas que o normal durante anos. Eu não passo uma dieta de proteínas de duas décadas e sim de cinco dias. É uma diferença enorme. Outra ponto estranho é que eles afirmam que comer carne até os 55 anos é perigoso, e depois não é mais. Não há explicação de por que é ruim para uma faixa etária e não para outra. E, por fim, também dizem que não há problema em consumir proteína vegetal. Acontece que proteína é uma cadeia de 20 aminoácidos, e a vegetal e a animal têm exatamente a mesma estrutura. Para mim, o problema não é a proteína, e sim o barbecue feito pelos americanos. É a escolha da carne e a maneira como cozinhá-la. Se você pega um t-bone steak, que tem muita gordura, e o coloca no fogo, a gordura fabrica corpos aromáticos que são cancerígenas.
Para o senhor, a principal questão é livrar as pessoas do sobrepeso. Qual é o real problema do sobrepeso no mundo hoje?
O sobrepeso é um problema social no mundo inteiro. A sociedade de consumo nasceu em 1944. Antes dela, quase não existia sobrepeso. Nessa época, havia 10 mil pessoas. Em 1960, já havia um milhão. Hoje são 26 milhões. Os problemas de sobrepeso, obesidade e diabete, todos com a mesma origem, são o risco numero um do mundo de mortalidade. É claro que ninguém diz que está morrendo por causa do sobrepeso. Mas o sobrepeso provoca inúmeras doenças mortais, como a diabete. Oitenta por cento dos amputados são diabéticos. Cinquenta por cento das pessoas com problemas no rins são diabéticos. É a doença mais terrível.
O senhor pediu para sair do colegiado de médicos da França em 2012 e agora em janeiro foi oficialmente expulso da entidade. Por que aconteceu esta ruptura?
Porque eu aceitei me tornar uma figura midiática. E, na França, um médico não tem esse direito. Um grupo defende a ideia de que um médico é um ser sobrenatural. Ele precisa estar nas nuvens, precisa ser puro como o Papa, não pode aparecer na TV. Mas, para mim, não é uma questão de pureza ou não. Pessoas estão morrendo por causa do sobrepeso e precisam ser ajudadas. Não sou um homem de negócios, tenho 70 anos. Não faço isso por mim, mas pelas pessoas que posso ajudar com a divulgação do meu método.