Sem compromisso com qualquer ideologia, grupo serve como massa de manobra para o governo
As cenas de vandalismo que tomaram as ruas das principais capitais nacionais desde as manifestações de junho, praticadas por grupos autointitulados "Black Blocs", tinham como propósito criticar a administração pública estadual, mas os seus efeitos foram contrários e acabaram por desacreditar os atos legítimos de categorias sociais e profissionais que revindicavam por melhores condições de vida e trabalho. Mais do que em outros estados, no Rio de Janeiro as depredações que marcaram os desfechos dos protestos, abriram uma porta para as violentas ações policiais autorizadas pelo governo de Sérgio Cabral e levaram a violência urbana para o eixo dos manifestos populares.
O cenário foi favorável somente ao governo do Estado, que procurava uma forma de desmoralizar as manifestações às vésperas de grandes eventos internacionais, além da proximidade do período eleitoral.
Em uma pesquisa acadêmica sobre as manifestações, o sociólogo e cientista político da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Paulo Baía, mapeou os grupos que foram identificados praticando atos violentos. Ele os dividiu em três categorias: aqueles que seguem uma política ideológica, os de natureza sociocultural e indivíduos que trabalham para o crime organizado. No total, Baía encontrou 18 grupos que "acreditam na violência", entre eles até policiais e políticos infiltrados. O "teatro" é sempre o mesmo, caracterizado por pessoas vestidas de preto e que usam o próprio corpo como arma, além de objetos que encontram pelo seu caminho, que fica marcado por um rastro de destruição. Baía concorda com os estudos de Francisco Teixeira e afirma que a tática black bloc tomou a proporção necessária para sufocar as reais revindicações das classes sociais e, inclusive, banalizou os ideais anarquistas que deram origem à ação revolucionária.