A denúncia é sobre o pagamento de propina nos governos tucanos em São Paulo para a Polícia Federal.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou nesta sexta-feira, 22, que foi ele o responsável pelo envio à Polícia Federal de um relatório sobre o cartel de trens que cita corrupção envolvendo políticos ligados a Geraldo Alckmin (PSDB), entre eles o chefe da Casa Civil do governador paulista, Edson Aparecido. Cardozo informou ainda ter recebido o texto, elaborado pelo ex-diretor da Siemens Everton Rheinheimer, das mãos do deputado estadual licenciado Simão Pedro (PT), hoje secretário de Serviços da Prefeitura de São Paulo.
As informações constam de nota oficial divulgada nesta sexta pelo Ministério da Justiça e contradizem um memorando de 11 de junho do delegado Braulio Cezar da Silva Galloni, coordenador-geral de Polícia Fazendária da Polícia Federal de Brasília. Esse memorando anunciava o encaminhamento das acusações contra os tucanos aos policiais federais paulistas. Nele, o delegado dizia expressamente que o relatório com as denúncias tinha chegado a ele via Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Cardozo diz, na nota de desta sexta, que repassou a papelada para a Polícia Federal, órgão que é submetido ao seu ministério, "no estrito cumprimento do dever legal, para as devidas investigações". O Cade, a quem o delegado de Brasília atribuía a origem do relatório com as acusações contra tucanos, é uma autarquia do mesmo ministério. Ou seja, também é submetido a Cardozo.
Ainda na quinta-feira, quando a reportagem foi publicada, o Cade divulgou nota dizendo que não havia recebido ou enviado qualquer relatório aos federais.
Relações antigas. Simão Pedro, que, segundo a nota do Ministério da Justiça, entregou o relatório com as acusações contra os tucanos para Cardozo, é autor, como deputado estadual, de duas representações ao Ministério Público sobre o cartel. O petista tem se empenhado para que o escândalo seja investigado. Ele e o ministro integram a mesma corrente política do PT, a "Mensagem ao Partido".
O hoje secretário municipal de Haddad também é próximo do presidente do Cade, Vinícius Carvalho. Antigo militante petista, Carvalho trabalhou como chefe de gabinete de Simão Pedro na Assembleia Legislativa paulista.
Pelo fato de ter omitido essa relação em cinco currículos oficiais – inclusive em material entregue aos senadores que aprovaram sua indicação ao cargo –, o presidente do Cade foi recentemente advertido pela Comissão de Ética da Presidência da República.
No relatório com as denúncias contra políticos tucanos, o ex-diretor da Siemens cita três vezes o nome de Simão Pedro. Nas duas primeiras, diz que foi com base em informações suas que o petista fez as representações protocoladas no Ministério Público paulista, e que ambos se reuniram com três promotores. Na outra, afirma que, com a ajuda do petista, encontrou-se por duas vezes com o presidente do Cade "para orientá-lo sobre alguns aspectos importantes do acordo de leniência a ser assinado entre o órgão e a Siemens".
O ex-diretor diz ainda que ajudou Carvalho a elaborar a lista de nomes e endereços para a execução dos mandados de busca e apreensão pela Polícia Federal, "de forma que nenhum nome, fato ou documento importante fosse omitido pelas empresas".
Em contato telefônico nesta sexta, o secretário de Haddad foi questionado sobre as informações prestadas por Cardozo e sobre sua relação com Rheinheimer. Ele pediu alguns minutos para responder e disse que ligaria de volta. Porém, não atendeu mais as ligações. Duas horas depois, enviou uma mensagem de texto por celular dizendo que em 15 minutos encaminharia uma nota comentando o assunto. Contudo, 20 minutos à frente enviou novo torpedo: "Não vou me manifestar por enquanto".
Colegas de Carvalho relataram nesta sexta que ele estava "angustiado" e "indignado" com pressões que passou a sofrer de políticos tucanos citados no relatório do ex-diretor da Siemens.
Com informações do Estadão