PMDB perde 10 prefeituras em relação a 2008, mas mantém 55,4% dos eleitores
Para especialistas, pleito desenhou nova configuração para as eleições de 2014
Jornal do Brasil
Luciano Pádua
Apesar de ter perdido 10 prefeituras com sua sigla nas eleições deste ano, especialistas acreditam que o PMDB continua como a grande força política do Rio de Janeiro. Ao todo, a legenda conquistou 25 prefeituras no estado, seguido pelo PT, com 11. Com o resultado das eleições deste domingo (28), o partido de Sérgio Cabral e Eduardo Paes representa 55,4% do eleitorado fluminense.
No segundo turno, o partido garantiu as prefeituras de Nova Iguaçu e Volta Redonda, com candidatos próprios, Berlfort Roxo e Niterói, em coligações. No entanto, sofreu derrotas em Duque de Caxias, Petrópolis e São Gonçalo. De acordo com cientistas políticos, esse resultado desenha as forças de poder para as próximas eleições de governador do estado, em 2014, com três possíveis frentes: o vice-governador Luiz Fernando Pezão, pelo PMDB, o ex-governador Anthony Garotinho, pelo PR, e o senador Lindbergh Farias, pelo PT.
Prefeituras x número de eleitores
O pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Uerj e professor de ciência política da UniRio, Felipe Borba, analisa os resultado por dois pontos de vista. Ele argumenta que “o PMDB elegeu 35 prefeitos em 2008. Agora, em 2012, no final das contas elegeu 25. Por esse lado, o PMDB perdeu um pouco de força. Mas por outro, em 2008, o partido controlava 54,6% dos eleitores do estado do Rio. Agora, apesar de ter diminuído em dez prefeituras, o partido fica estável no numero de eleitores: 55,4%", avaliou.
Para Borba, o segundo turno foi bastante desfavorável para o partido, especialmente com as derrotas nas urnas nas cidades de São Gonçalo, onde o candidato do ex-governador do Rio Anthony Garotinho (PR), Neilton Mulim (PR) saiu vitorioso; Duque de Caxias, que concentra quase 5% da população fluminense, segundo o pesquisador; e Petrópolis, importante centro econômico e cultural da Região Serrana. Juntos, os três municípios computaram mais de 1,5 milhão de votos, segundo dados do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ).
Para o professor de Ciência Política da Universidade Federal Fluminense (UFF), Eurico Figueiredo, o PMDB mantém posição privilegiada no estado, mas a sigla sofre com a concorrência de outros partidos pequenos. “Com as vitórias obtidas, ele melhorou o seu desempenho político partidário. Não se trata de pensar no declínio do PMDB no estado. Pode se pensar que o PMDB, que já foi de longe o maior partido brasileiro, está experimentando concorrência com outros partidos, como o PSB, que já vai ganhar um ministério e teve um resultado bastante razoável para estreia no cenário político brasileiro nessas eleições”.
Forças no estado
Segundo Borba, os resultados das urnas desenham um embate entre as correntes políticas lideradas por Anthony Garotinho, o vice-governador do estado, Luiz Fernando Pezão (PMDB), e o possível candidato do PT, o senador Lindbergh Farias. “O PMDB tem mais da metade do eleitorado fluminense, e ainda é o que controla o maior número de prefeituras. O segundo é o PT, com 11. A máquina no estado é toda do PMDB. O PT se enfraqueceu na Baixada Fluminense, pois perdeu Nova Iguaçu e Belford Roxo. Em compensação, ganhou em Niterói”, analisa o pesquisador do IESP.
Já o Partido Republicano, destaca o pesquisador do IESP, só conquistou sete prefeituras nestas eleições, entre elas a de São Gonçalo e a de Campos. “Vai ser uma disputa entre o carisma do Garotinho e do Lindbergh e a máquina do PMDB. Lindbergh tem um pouco de vantagem sobre o Garotinho, apesar de não ser tão conhecido, por não ter a rejeição do ex-governador”, apontou.
Para o PMDB, o professor apontou a possibilidade de uma candidatura do secretário de Segurança do estado, José Mariano Beltrame, hipótese que tem muito apelo popular. Apesar de reconhecer que o policial federal já descartou se candidatar, Borba considera que, em política, “o humor das pessoas muda”. “O Beltrame é uma carta na manga, o Eduardo Paes não abrirá mão de ser o prefeito dos Jogos Olímpicos”, ponderou, afastando a possibilidade do atual prefeito concorrer ao cargo de governador.
Até 2022?
Isto porque, segundo o especialista, o nome do vice-governador Pezão “ainda não está na boca do povo”. Para isso, uma possível interpretação da estratégia do PMDB seria, de acordo com Borba, de que a saída de Cabral antes do fim do mandato visaria fortalecer a candidatura de Pezão. Caso contrário, a renúncia do atual governador seria um equívoco. “Avalio como um equívoco a saída do Sérgio Cabral. Ele foi eleito para ficar até o final do mandato. Se não for eleito para nenhum outro cargo, tem que ficar até o fim. A não ser que o PMDB esteja fazendo isso para que o Pezão seja reeleito”, considerou.
Caso isso se concretize, ao assumir o cargo de governador, Pezão só poderia concorrer à reeleição e teria 2018 como prazo máximo para controlar o Palácio das Laranjeiras. Assim, o atual prefeito do Rio poderia disputar o pleito e estender o domínio do PMDB no estado até 2022.
“Aí, já seria reeleição para o Pezão e, em 2018, ele não poderia concorrer a outro mandato. Isso abre a porta para o Eduardo Paes vir como candidato ao governo em 2018”, analisou. “Se o Cabral antecipa sua saída do cargo, o cenário que se desenha é esse. Ficaria dentro da estratégia manter o governo do estado até 2022. Não sei se realmente fará isso, é preciso esperar o movimento dele. Acredito que o Cabral vá cumprir seu mandato até o final”.
Embora o PMDB tenha maioria das prefeituras e número de eleitores no estado, o pesquisador pondera que, somente na capital, há 40% do eleitorado fluminense. Ele argumenta que a avaliação do governo peemedebista no interior do estado não é tão favorável, apesar de Cabral ainda ser uma liderança forte.
“A crítica o avalia como um político que faz muito pela capital. A segurança pública é o maior exemplo disso: ele fez as UPPs e os bandidos foram para o interior, o que aumentou a insegurança. No caso dele, pensaria em largar o governo com melhores níveis. Ainda é uma liderança forte no estado na máquina do PMDB, junto com o Picciani”.
Para Figueiredo, nas atuais circunstâncias, Pezão seria o candidato mais favorável a vencer as eleições de 2014. “A política é uma nuvem. Você olha parece uma coisa, quando volta a olhar, parece outra. Hoje, há quem diga que o vice-governador tem muita chance de ser o governador. Mas há muitas coisas em jogo. Se fosse hoje, ele seria o favorito”.
Lindbergh: postulação veemente
O professor da UFF destaca a vitória do PMDB em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, município que computou mais de 560 mil votos neste domingo, segundo o TRE-RJ. “Essa vitória em Nova Iguaçu foi muito importante para o governador. Ele está muito bem no estado inteiro em comparação à eleição passada, e em relação a suas duas alternativas, Lindbergh Farias e Anthony Garotinho”, apontou.
Para ele, há uma luta interna no PT sobre aceitar a candidatura de Lindbergh Farias como avulsa, ou submetê-la ao partido majoritário no estado e ficar com a vice-governança. Contudo, pondera que “o senador não irá facilmente abrir mão de sua postulação para ser o candidato do PT ao governo”.
“Lindbergh mostrou capacidade de firmar sua posição no estado. Se formou aqui, mas ele não é daqui. Conseguiu ser prefeito de uma cidade onde nem era conhecido. Ele não pertencia nem ao estado nem à cidade, e ganhou contra lideranças tradicionais, que, diga-se, estão retornando ao local com a derrota da candidata que ele apoiou lá, Sheila Gama (PDT), que não era do PT, mas tinha seu apoio”, afirmou.
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