Os produtos eletroeletrônicos possuem vida útil e, quando não têm mais serventia, viram lixo que pode ser reaproveitado. Mas para onde vai - ou deveria ir - tudo isso?
O consumo de eletroeletrônicos nunca foi tão grande. Só de aparelhos para comunicação, o comércio mundial ultrapassa um trilhão de dólares. Consequentemente, nunca tanto lixo eletroeletrônico foi gerado: ele cresce a uma velocidade de três a cinco vezes maior que o lixo urbano.
Segundo dados da ONU, são 40 milhões de toneladas por ano.
Parte se deve ao constante avanço da tecnologia, que faz com que a vida útil dos eletrônicos seja cada vez menor. Anualmente, 1,5 bilhão de celulares são substituídos.
“Celulares, aparelhos de som e computadores são exemplos típicos que contam com lançamentos constantes de novas versões. Com isso, há o desejo de substituir os equipamentos antigos pelos mais recentes, gerando mais aparelhos obsoletos", afirma Júlio Carlos Afonso, professor do departamento de Química Analítica do Instituto de Química da UFRJ.
Esse fácil acesso às tecnologias modernas tem um efeito colateral complicado para o meio ambiente, principalmente em países emergentes, como o Brasil, onde não há ainda um sistema de gestão eficiente para lidar com esse tipo de material.
Com isso, muitas vezes, os aparelhos acabam ocupando um espaço no fundo do armário ou, pior, são descartados no lixo comum.
“O problema desse resíduo ser descartado no lixo comum é a presença de metais pesados. Há mercúrio, chumbo, cádmio e outros metais que, se destinados aos lixões, aterros ou rios podem causar uma séria contaminação às águas, solo e ar”, explica Alessandro Dinelli, fundador e presidente CDI Amazônia.
E isso não é tudo: descartar o lixo eletroeletrônico no ambiente é desperdiçar a oportunidade de recuperar partes recicláveis e metais de alto valor como ouro, prata e cobre.
“O lixo eletroeletrônico disposto em aterros municipais ainda não é abordado em profundidade nas leis ambientais sobre o tema. Contudo, a Política Nacional de Resíduos Sólidos prevê os fins dos lixões e aterros controlados, e colocou o lixo eletroeletrônico no rol da logística reversa obrigatória, o que implica, ao menos em teoria, que esse tipo de destinação não deverá mais acontecer”, diz Afonso.
Afinal, o que fazer com o e-lixo?
A melhor forma de descartar esse resíduo é começando com a conscientização de que ele não é um lixo comum e, portanto, não pode ser misturado aos demais resíduos domésticos.
“O ideal é que todos os consumidores, na hora da aquisição de determinado produto, se responsabilizem no destino correto daquele material. Dessa forma, quando o material tornar-se obsoleto ou impróprio para uso, já terá destino certo”, aconselha Dinelli.
Hoje já é possível procurar por pontos de coleta adequados, centros de reciclagem, fabricantes de produto, cooperativas, associações de catadores de matérias recicláveis e empresas especializadas na gestão de resíduos tecnológicos.
É o caso, por exemplo, da Coopermiti, primeira cooperativa de lixo eletrônico de São Paulo a adquirir convênio junto à Prefeitura.
“Alguns equipamentos devem ser tratados de forma adequada como pilhas, baterias, monitores e televisores que possuam tubo CRT. Esse é o nosso objetivo”, salienta Cintia Pereira, da cooperativa de reciclagem.
Fora isso, outra preocupação diz respeito aos dados e informações que esses resíduos eletrônicos possuem.
“No celular, no tablet, no notebook, no HD e no cartão de memória estão armazenados fotos, documentos, senhas e informações pessoais que podem ser recuperados e usados de forma incorreta quando o descarte é feito sem cuidados mínimos”, alerta.
Segundo a Política Nacional dos Resíduos Sólidos, aliás, a reciclagem é apenas uma parte do processo, existindo espaço também para a reutilização do e-lixo.
“Na realidade esse lixo conta com recursos preciosos, que podem virar matéria prima e oportunidades, destruindo menos o meio ambiente, que não conseguirá acompanhar o acelerado ritmo de crescimento e modernidade”, diz Dinelli.
Por isso, equipamentos de informática que ainda funcionam podem ser doados a ONGs que recuperam os equipamentos para uso nos chamados projetos de inclusão digital. Esse é o caso, também, de geladeiras, micro-ondas, TVs, DVDs e outros eletrodomésticos que são reaproveitados por cooperativas de reciclagem.
Pilhas e baterias têm a seu favor a resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que afirma que fabricantes ou importadores desses produtos são responsáveis pela coleta dos materiais. O usuário pode devolver o produto à loja onde o comprou ou à assistência técnica autorizada.
Tablets, telefones celulares e suas baterias seguem a mesma lógica. Existem urnas especiais nas lojas das operadoras que vendem os aparelhos para que o material seja descartado e, posteriormente, levado para reciclagem.