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Caio Blinder
De Nova York
Jogos de guerra (EUA x Irã)
Como terminaria?
Nesta sua última visita a Nova York (só aparece na cidade por ter o direito de falar na assembleia-geral da ONU), Mahmoud Ahmadinejad nega que seu país tenha propósitos militares com seu programa nuclear. Mas este é o mesmo infame personagem que nega que Israel tenha raízes históricas no Oriente Médio. Inegável é a falta de crédito do presidente iraniano. Ahmadinejad termina seu segundo e último mandato em junho próximo. Depois do seu discurso na assembleia-geral nesta quarta-feira, ele nunca mais negará a realidade em Nova York. Ahmadinejad, persona non grata.
Já no seu discurso de terça-feira, que os republicanos esperam que tenha sido o último na assembleia-geral da ONU, o presidente Barack Obama, em campanha de reeleição, reafirmou que não existe um tempo ilimitado para a diplomacia e reafirmou seu compromisso para impedir que o Irã adquira a bomba nuclear.
Nos tempos de EUA x URSS
Em Nova York, portanto, exercícios retóricos. Já em Washington, tivemos outro tipo de exercício, também envolvendo o programa nuclear iraniano. Um dos mais influentes centros de estudos do mundo (Brookings Institution) brincou de jogos de guerra. Nada de armas de verdade, mas os times atuaram como tomadores de decisão em Washington e Teerã (mas não em Jerusalém). E os resultados não foram promissores (pelo menos na visão daqueles que não querem um conflito militar.
Neste jogo de guerra, estamos em julho de 2013. As premissas são: Israel não lançou um ataque unilateral, as negociações multilaterais estão empacadas, Barack Obama está no seu segundo mandato e o Irã, que prosseguiu com seu programa de enriquecimento de urânio, está prestes a ter combustível para duas bombas (questão de quatro meses).
O cenário incluí ataques cibernéticos e o assassinato de cientistas nucleares iranianos. A partir daí, uma escalada. São possíveis movimentações para dúzias de direções, algumas totalmente pacíficas, outras inteiramente belicosas e ainda algumas mesclando as coisas. As partes estimam que escolheram opções limitadas e que não irão fugir ao controle. E como na guerra real, há um jogo de percepção entre atores e de leitura errada dos sinais.
Uma ação terrorista iraniana é praticada em um hotel de Aruba, com efeitos mais devastadores do que projetara, com a morte de muitos americanos. Os EUA decidem retaliar com um ataque contra uma remota instalação da Guarda Revolucionária iraniana, na expectativa de que o regime de Teerã entenda que se trata de uma resposta mínima de Washington.
A ideia é a de que os iranianos absorvam que se trata do mínimo aceitável pela opinião pública americana. Mas os iranianos concluem no war game que Washington está cruzando a chamada linha vermelha. E o time de Teerã decide fechar o estreito de Hormuz, estratégico para o comércio petrolífero. Esta é uma resposta inaceitável para o time americano e temos uma nova escalada de tensões.
No final do jogo, os americanos estão para lançar uma maciça operação militar contra o Irã. A dúvida é sobre o alcance: arrasar o aparato de defesa convencional ou isto e também fulminar o programa nuclear. Do lado iraniano, a decisão é reagir com uma espécie de martírio: lutar para sempre.
Kenneth Pollack, um dos mais conhecidos analistas militares e de questões iranianas nos EUA (trabalhou na CIA e no Conselho de Segurança Nacional e agora está no Brookings) foi o mediador, ou “facilitador” deste jogo de guerra. Ele diz que o war game, como tantos outros, comprova o papel de cálculo equivocados e que pequenos erros podem resultar rapidamente em grandes conflitos.
Este jogo de guerra termina com os primeiros grandes lances militares americanos. E não sabemos, como ocorre também no mundo real, o que pode acontecer na sequência. Este é a questão crucial em uma guerra com o Irã: como ela terminaria?
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