Ninguém explica as sucessivas falta de luz
Desde o final do ano passado e início do calor, a distribuição de energia é posta em xeque; apagão registrado na terça-feira reacende a discussão sobre a fragilidade do sistema elétrico
Com Informações - Diário Popular - Por: Luciara Schneid
Edição no blog : Beto Vetromille
Será que hoje vai faltar luz? Quem não se fez esta pergunta mentalmente, nos últimos meses, até mesmo diante do verão rigoroso que tem se apresentado, em que as temperaturas têm se elevado próximas dos 40°C e sensação térmica de quase 50°C. Nos tempos atuais, nos tornamos reféns da energia elétrica, que se tornou gênero de primeira necessidade, e os rumores de um iminente apagão no país reacendem as discussões sobre a fragilidade do sistema elétrico nacional.
Gerente Regional da CEEE Rio Grande Itamar Protas fala da quantidade de temporais, que dificulta o serviço (Foto Marcus Maciel - DP) |
De manhã, ao abrirmos os olhos, nossa primeira ação envolve a energia elétrica, ao ligarmos o chuveiro para tomar banho. Daí em diante, ela nos acompanha pelo dia inteiro e até mesmo ações simples, como passar um café nos torna dependentes dela. Na terça-feira (4), um apagão nacional, repercutiu no Sul do país e deixou parcialmente sem luz, pelo período de duas horas (das 14h às 16h), 11 municípios da área de concessão da CEEE Distribuição.
Houve desabastecimento parcial nos municípios de Alvorada, Bagé, Canguçu, Dom Pedrito, Guaíba, Mostardas, Pelotas, Porto Alegre, Santo Antônio da Patrulha e Viamão, atingindo, no total, 140 mil clientes da concessionária. Em nota, a CEEE Distribuidora classificou o apagão como uma perturbação verificada no Sistema Interligado Nacional (SIN).
Temporais agravam a distribuição de energia
“O que tem nos castigado de dezembro para cá é a quantidade de temporais que está ocorrendo”, desabafa o gerente regional da CEEE Rio Grande, Itamar Protas, que ainda registra clientes sem luz, em consequência do temporal ocorrido na noite de domingo, na região. Somente nas localidades do Taim e da Capilha, entre Rio Grande e Santa Vitória do Palmar, foram 70 postes derrubados pelo vendaval, o que deixou 600 consumidores às escuras. Segundo ele, ainda restam 267 clientes desabastecidos e oito equipes pesadas da companhia atuam nas localidades para concluir os trabalhos até sexta-feira (7).
Na região da gerência regional de Pelotas, 40 mil clientes ficaram sem luz em 11 municípios de abrangência da CEEE, devido à queda de postes devido ao temporal. Os mais afetados foram Pelotas, Canguçu, Piratini, Pedro Osório, Morro Redondo, Capão do Leão e Arroio do Padre. Ainda na terça-feira, havia clientes de Pelotas e Morro Redondo desabastecidos e a luz voltou no final da tarde, por volta das 18h30min.
Na tarde de quarta-feira (5), o morador da Cascata, Roberto Silva, contabilizava quase três dias sem energia elétrica, mas por volta das 16h, a luz voltou, segundo ele. “Falta de luz é algo que enfrentamos seguido aqui”, disse o morador inconformado.
Também ocorreram dois desligamentos em Pelotas por problemas na subestação Pelotas 2. Um ocorreu às 14h14min, com retorno da energia às 14h24min. Um segundo desligamento ocorreu às 14h44min e durou até as 14h50min. A queda de um transformador teria originado as interrupções e a equipe da companhia buscava identificar o defeito.
Resquícios do temporal
Pela manhã, equipes da CEEE trabalhavam na zona rural dos municípios da regional de Pelotas, ainda em função dos problemas causados pelo temporal de domingo. Os registros da CEEE apontavam 1,5 mil clientes sem fornecimento nas áreas rurais de Canguçu, Piratini, Pedro Osório, Morro Redondo, Capão do Leão e Arroio do Padre. Os serviços envolvem trocas de postes, transformadores, cruzetas e outros equipamentos necessários para o fornecimento de energia elétrica.
Segundo nota distribuída à imprensa pela assessoria do Grupo CEEE, a Regional de Pelotas está empenhada em concluir os trabalhos o mais rápido possível. “Em função da complexidade dos estragos, a CEEE Distribuição trabalha com todas as suas equipes e contratou, desde segunda-feira, todos os caminhões disponíveis na região para ajudar na recomposição”, informou a nota.
Além disso, colocou à disposição dos usuários, o número 27307 com serviço de torpedo, com o qual o cliente pode mandar uma mensagem de texto do celular com a palavra LUZ e o número da instalação. O registro da reclamação de interrupção de energia naquele endereço é realizado e um protocolo de atendimento será enviado, também por torpedo, com o tempo médio de atendimento para a unidade consumidora informada. Além do torpedo, o contato com a companhia pode ser feito através do número 0800 721 2333.
Demanda bateu recorde minutos antes do apagão
Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), houve um pico de demanda no subsistema Sul às 14h de terça-feira, três minutos antes do blecaute que atingiu 11 estados. A demanda máxima atingiu 17.412 megawatts às 14h e o apagão ocorreu às 14h03min.
Segundo o Boletim de Carga Especial do ONS, divulgado na quarta-feira, a demanda recorde deve-se à continuidade das altas temperaturas e ao índice de desconforto térmico nessa região do país na hora de maior insolação. A cidade de São Paulo teve o janeiro mais quente dos últimos 71 anos e iniciou fevereiro com os termômetros chegando a 35 graus. O recorde anterior de demanda de energia, de 17.357 MW, havia sido atingido no último dia 29 de janeiro.
Na terça-feira, o presidente do ONS, Hermes Chipp, negou que o consumo elevado de energia e o baixo nível dos reservatórios tenham provocado o apagão. Segundo ele, o órgão ainda não sabe as causas reais do problema, apenas que dois defeitos causaram a queda do sistema e motivaram um terceiro defeito.
Segundo o órgão, o restabelecimento da interligação entre o Norte e o Sudeste ocorreu 38 minutos depois da queda da energia. Mas algumas localidades chegaram a ficar quase duas horas sem luz. O apagão afetou cerca de 6 milhões de pessoas.
Nesta quinta-feira (6) às 14h, uma reunião no ONS discutirá o apagão. Participarão do encontro representantes da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), do Ministério de Minas e Energia, do ONS e das concessionárias envolvidas, entre elas Eletronorte, Furnas, Tractbel, Cemig, Cesp e Eletrosul.