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sexta-feira, 16 de maio de 2014

COMÉDIA DE ALMODÓVAR ENTUSIASMA CANNES


RODRIGO SALEM
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE CANNES

Único representante da América Latina na corrida pela Palma de Ouro, o filme argentino (em coprodução com a Espanha) "Relatos Salvajes" não poderia ter tido uma melhor recepção nas duas primeiras sessões do festival, na noite desta sexta-feira (16). O longa, produzido pelo diretor Pedro Almodóvar, arrancou gargalhadas e aplausos durante a exibição de sua antologia de seis histórias de humor negro.

"Relatos Salvajes" dificilmente tem chances concretas de arrebatar a Palma de Ouro. Em primeiro lugar, comédias são bem-vindas no festival, mas em menor grau de destaque —há dois anos, Ken Loach conseguiu o prêmio do júri por "A Parte dos Anjos", porém o próprio cineasta já era uma franquia respeitada no evento. Não é o caso do portenho Damián Szifron, ainda em seu terceiro filme, o primeiro em Cannes.

Em segundo lugar, antologias precisam ser muito bem intricadas para tomar o lugar de um longa tradicional —nem Jim Jarmusch, mestre do gênero com "Uma Noite Sobre a Terra" (1991) e "Sobre Café e Cigarros" (2003), conseguiu. Contudo, a ambição do longa argentino não parece fixa na ideia de prêmios: é um filme com apelo comercial forte, tanto que sua distribuição, inclusive no Brasil, onde deve aportar no segundo semestre, foi comprada pela poderosa Warner.

Competição oficial do festival de Cannes
"Relatos Salvajes"
A abertura é antológica e rendeu os primeiros aplausos em Cannes. Passageiros em um voo começam a conversar e descobrem que algo une todos eles. O texto é de uma acidez tão violenta que fica difícil entender como Almodóvar não se inspirou nela para melhorar seu último filme, "Os Amantes Passageiros" (2013). A segunda história é ainda mais venenosa, sobre uma garçonete que recebe um cliente ligado ao seu passado trágico e precisa decidir qual atitude tomar com a informação.

A terceira parece ser mais óbvia —um playboy, em seu carro possante, passa por um motorista humilde e o xinga, mas não conta com um pneu furado mais adiante— até a briga dos dois personagens evoluir quase ao surreal. A quarta, protagonizada por Ricardo Darin, vai ser facilmente reconhecida pelos brasileiros: um engenheiro entra numa espiral de revolta quando seu carro é levado pelo guincho e uma série de burocracias o leva à loucura. Uma trama na cara de qualquer paulistano, mas feita por um argentino inspirado.

A quinta e sexta histórias pecam um pouco por serem mais leves, o que não se espera para o que deveria ser o "clímax" do filme. A penúltima —e mais fraca— traz uma família tentando livrar o filho da culpa de um atropelamento ao pedir para o jardineiro assumir o acidente. Já o capítulo derradeiro, sobre uma noiva que descobre a traição do marido em plena festa de casamento, tem seus momentos, mas eles são obscurecidos pela primeira metade do longa.

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