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domingo, 11 de maio de 2014

NUDEZ DISCUTE TABU SOBRE SEXUALIDADE

Mostra com fotos de mulheres nuas discute sexualidade como tabu

Folha de São Paulo

Há quatro anos, a fotógrafa paulistana Alle Manzano, 33, começou a tirar fotos de pessoas nuas. Hoje, com cerca de 200 imagens no acervo, ela selecionou 15 imagens para a exposição "Lendo-me", no Nola Bar (zona oeste de São Paulo).

"A intenção é abrir diálogo com uma sociedade regida por regras e pré-conceitos estabelecidos, que trata o tema da masturbação como tabu", diz. As telas ficam em um lounge da casa, que conta com objetos de antiquários em sua decoração, pouca luz no ambiente e rock e soul nas caixas de som.

Para ela, o grande desafio foi clicar mulheres completamente sem roupa e enquadrá-las em posições que não ficassem vulgar.

O escritor Fabio Chap fez poemas para acompanhar cada retrato. "O resultado foi surpreendente e algumas meninas, quando se depararam com a tela e com o poema, se emocionaram", lembra Alle.

Por conta do tipo de imagem que faz, Alle fica triste quando algumas pessoas confundem seu trabalho: "Já ouvi propostas de 'ménage a trois', transa com mulheres, perguntas indecentes", conta.

A exposição no Nola fica em cartaz até 31 de maio e depois vai para outras casas noturnas da capital paulista —como Jazz nos Fundos e a Serralheria.

Lendo-me - Nola Bar - R. Mourato Coelho, 1.156, Pinheiros, zona oeste. Tel.: 3031-4377. Qua. a sáb.: 22h às 4h. Dom.: 18h às 24h.

ABAIXO, FOTOS E O BATE-PAPO COM ALLE MANZANO:


Qual sua intenção com esse tipo de imagem?
Alle Manzano - Reunir pontos de vista não expostos. Abrir diálogo com uma sociedade regida por regras e 'pré-conceitos' estabelecidos, que trata o tema da masturbação como tabu. O nu torna a foto transparente mostrando nossos momentos de dores, lágrimas e, às vezes, destacando nosso lado obscuro. Minhas imagens precisam falar, pedir e incomodar.

Desde quando faz esse tipo de retrato e por quê?
Faço nu há quatro anos, mas sempre divulguei imagens de DJs. Meu trabalho teve um boom quando comecei a fotografar DJs famosos como Vivi Seixas [filha de Raul Seixas], Renato Cohen, Mau Mau, Eli Iwasa. Essas pessoas ajudaram a divulgar o meu trabalho. O porquê do nu é simples: com o nu, qualquer ser se sente desprotegido e é exatamente isso que faço com cada uma das mulheres. Preciso delas desprotegidas, desprovidas, com apenas a essência que existe por dentro.

Qual o maior desafio/dificuldade para se fazer belos retratos nus?
O desafio é ver uma mulher completamente sem roupa e enquadrá-la em uma posição que não fique vulgar.

Como seleciona as modelos?
São amigas de amigas. Vejo o perfil no Facebook e faço o convite. Após o resultado, uma amiga vê e sempre quer. Assim sigo...


Qual a mensagem que você quis passar ao dar o nome de "Lendo-me"?
Lendo-me... É o que desejo para cada mulher. Incentivo as mulheres a se amarem constantemente; se tocar, se desejar, se olhar no espelho e se enxergar; conseguir se aceitar, abrir espaços para as suas vontades, sua coragem e suas libertações. Esquecer o mundo de silicones, ouros e plumas. A ver valores e prazeres em todos os lugares do seu corpo: ver o quanto é importante para si mesma e como ela se faz falta. A mulher que consegue trabalhar esse sentimento está firme em todas as decisões, situações e vivencia momentos de real prazer. Precisamos ser e não ter. Precisamos de almas grandes e não de bundas fartas. A beleza do mundo está nas mulheres. Independentemente de sua opção sexual, a mulher é quem gera a vida. A mulher é a soma de todo esse universo.

Com 200 imagens no acervo, por que escolheu apenas 15 para expor?
Porque são as imagens que mais falam sobre mim. Elas me representam, me identifico bastante.

Como foi a escolha de cada poema para cada imagem?
Foi um casamento de nu e poemas com o escritor Fabio Chap. Antes de cada ensaio existe um diálogo entre eu e a modelo a ser fotografada, então consigo sentir o que cada uma está vivendo naquele momento. Se está feliz, triste, preocupada, com dificuldades, enfim... O que se passa na vida de cada uma delas. E numa tarde de sábado, regada a arte e cervejas com meus amigos Tarek Mahammed (fotógrafo) e com Fabio Chap (escritor), Chap olhou cada imagem e começou a recitar poemas. Na mesma hora pedi a ele que anotasse o que estava lendo em cada imagem. Ele imediatamente pegou seu caderninho que carrega no bolso da camisa e foi criando cada poema. Foi impressionante como ele leu cada mulher que ali estava. Soube captar o que cada uma sentia naquele momento. O resultado foi surpreendente e algumas meninas, quando se depararam com a tela e com o poema, se emocionaram.


Já recebeu alguma crítica com as fotos que a deixou triste?
Não sei se foi bem uma crítica, mas homens e mulheres acabam confundindo o nu artístico. Acabam me rotulando por ser fotógrafa de nu feminino e com isso já ouvi propostas de ménage, transa com mulheres, perguntas indecentes. Fico triste, pois percebo que as pessoas andam tão carnais que não conseguem apreciar o sentimento que a imagem passa.

Em seu trabalho, há mulheres bonitas, mas com uma beleza mais natural... Qual sua opinião sobre as mulheres que aparecem na TV e investem em silicone, horas de academia e até em anabolizantes para mudar o corpo?
Elas têm total direito sobre essa mudança. se as faz feliz, se as deixam segura, acho que é valido sim. Só que não entendo por que algumas mulheres precisam desse corpo escultural apenas para agradar aos homens. Primeiro eu me agrado, eu me faço feliz e depois, sim, vem o parceiro. Eu particularmente não consigo achar beleza nesses tipos de corpos e num rosto coberto totalmente coberto por maquiagem.

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