Jornal do Brasil
Ronaldo Rogério de Freitas Mourão*
O Laboratório de Ciências de Marte (Mars Science Laboratory) e o Curiosity é uma sonda-laboratório desenvolvida pela Nasa para analisar o solo marciano e recolher amostras que serão analisadas, após o que serão enviados à Terra os resultados. Este robô teleguiado é cinco vezes mais pesado do que os da missão Mars Exploration Rovers (Spirit e Opportunity), que desembarcaram em 2004. O MSL irá levar os instrumentos científicos mais avançados do que qualquer outra missão a Marte até hoje, incluindo a análise de amostras obtidas escavando e perfurando o solo que serão transformadas em pó. Irá também investigar a possibilidade de Marte ter vida microbiana no passado e no presente. Os Estados Unidos, Alemanha, França, Rússia e Espanha forneceram os instrumentos de bordo.
A sonda-laboratório foi lançada pelo foguete Atlas V 541 em 26 de novembro de 2011. Após realizar o primeiro desembarque de precisão em Marte, está prevista a sua exploração durante pelo menos um ano marciano (668 sóis marcianos /686 dias terrestres); sua capacidade exploradora será superior às anteriores. O custo do programa foi estimado em 2,5 bilhões de dólares.
Na atualidade, um dos grandes defensores dos ciclos ecológicos fechados e da exploração dos recursos extraterrestres é o engenheiro norte-americano Robert Zubrin, principal líder do movimento espacial norte-americano, depois do desaparecimento de Gerard O’Neill, e um dos fundadores da Mars Society, criada com o objetivo de promover uma conquista rápida de Marte. Para Robert Zubrin será possível enviar astronautas para o planeta Marte nos próximos dez anos, com um custo de 50 bilhões de dólares, despesa inferior à da Estação Espacial Internacional.
Zubrin planejou uma reduzida expedição a Marte com um modesto veículo espacial que utilizasse quase somente recursos recicláveis. Uma das propostas mais avançadas é a exploração das fontes marcianas capazes de produzir os combustíveis necessários às naves de regresso à superfície terrestre. Imagina-se que esta técnica poderá ser rapidamente desenvolvida, podendo servir, desde os primeiros anos do século 21, para as próximas missões automáticas de reconhecimento da superfície do planeta vermelho, tais como: Sojourner, em 1997; Spirit e Opportunity, em 2004; e Curiosity, em 2012.
Zubrin não é um mero visionário: as suas exposições vêm confirmadas por experiências realizadas em seu laboratório do Colorado, onde testou um aparelho capaz de fabricar propergóis a partir dos gases existentes na atmosfera marciana. Tal sistema poderá ser colocado na superfície do planeta Marte e, deste modo, reabastecer as sondas que deverão trazer as amostras para a Terra nos próximos anos. Uma versão maior deverá ser utilizada mais tarde pelos veículos que transportarão os primeiros exploradores humanos do solo de Marte à superfície terrestre. Para reduzir os gastos durante essas viagens, será possível também fazer uma escala de ida e volta a Fobos – um dos dois pequenos satélites de Marte – de onde serão extraídas água e matérias orgânicas, importantes para a vida dos eventuais astronautas assim como para a produção dos combustíveis no próprio local.
A terraformação de Marte.
A ideia dos novos pioneiros, dentre eles Robert Zubrin, não é somente ir a Marte; eles desejam transformá-lo num planeta habitável e, deste modo, duplicar a superfície de que a humanidade poderá dispor no sistema solar. Sua concepção é transformar o planeta vermelho numa segunda Terra. Para isto, será necessário terraformar (terraforming) o planeta, ou seja, utilizar os recursos do próprio astro para criar uma atmosfera respirável, com rios, mares, florestas, bosques etc. Tal operação é o mais audacioso projeto de “engenharia civil” jamais concebido pela mente humana. Aliás, convém assinalar que a própria atmosfera terrestre, atualmente rica em oxigênio, não o foi no início. A nossa atmosfera foi transformada pela ação de bactérias primitivas nas épocas iniciais da sua história. A proposta dos defensores da terraformação é a de introduzir estes organismos simples capazes de produzir uma biosfera na superfície de Marte ou de outros quaisquer corpos celestes.
Na realidade, o planeta vermelho tem todas as condições para que a terraformação seja possível. Por um lado, os estudos científicos sugerem que existem indícios, segundo os quais o subsolo do planeta vermelho contém uma enorme quantidade de gelo, no interior de seu solo congelado, como o permafrost siberiano. Por outro lado, se o gás carbônico congelado das suas calotas polares fosse liberado na atmosfera marciana, ocorreria um efeito estufa e, em consequência, um reaquecimento do clima do planeta. Uma vez iniciado este processo de aquecimento, a temperatura mais elevada aceleraria o degelo das calotas polares e do permafrost subterrâneo. A partir desse momento, o planeta vermelho teria um clima mais ameno, em sua superfície surgiriam rios e lagos, assim como uma vegetação que poderia ser levada da Terra.
Para dar início a este processo, Robert Zubrin propôs que se colocassem ao redor do planeta grandes espelhos capazes de focalizar a luz solar sobre os polos marcianos. Outra solução seria cobrir as calotas polares com uma camada de poeira que absorvesse o calor solar, com o objetivo de acelerar o degelo. Os menos otimistas questionam que seriam necessários séculos para que a atmosfera de Marte se tornasse mais densa e mais quente, para que a água começasse a fluir em sua superfície. No entanto, convém notar que não seria preciso atingir os últimos estágios de terraformação para que se iniciasse o seu povoamento.