Mulheres buscam "bumbum perfeito" para o verão
ROBERTO DE OLIVEIRA
Chegou a hora de essa gente bronzeada mostrar o seu valor... ou quase. A estudante Marcelle Marques, 18, precisa de mais duas semanas.
O prazo tem dois objetivos: conseguir mais 5 cm de glúteos, numa série de exercícios puxados chamada "bunda na nuca", para, aí, sim, começar o verão com o "corpo ideal".
Na última quinta-feira, o termômetro em frente à barraca do Pepê, na Barra (Rio), registrava 37ºC, mas a sensação térmica beirava os 50ºC.
Mesmo assim, Marcelle mantinha a camiseta com aplique de pedraria sobre o corpo até abaixo da cintura.
"Ainda preciso malhar muito a região dos glúteos", disse. "Hoje, a prioridade entre as mulheres da academia é uma só: o bumbum tem que subir lá para a nuca."
Sua colega, a maquiadora Amanda Inácio, 21, também do grupo das "não preparadas", diz que o verbo deste verão é "definir": braços, pernas, abdômen e, principalmente, levantar o bumbum. "Tem que estar tudo de pé para não balançar no Carnaval."
Além de uma série de exercícios na academia, de corridas na areia e da alimentação saudável, Amanda saca mais uma estratégia: "Jamais fico sentada na praia. É a chance de revelar algum pneuzinho".
A mulher brasileira, na avaliação da maquiadora, tem a geometria perfeita. "Se as gaúchas são loiras lindas de peitões e as baianas são as morenas douradas de olhos claros, as cariocas são as de bumbum empinado", diz.
A amiga Marcelle complementa: "É para onde todo mundo olha, ainda mais agora, que o Brasil, e especialmente o Rio, está em evidência. Espia só os gringos!".
A julgar pelo foco de atenção dos "gringos" na Barra no momento em que as meninas tiram as camisetas para as fotos desta reportagem, fica difícil discordar delas.
TROFÉU NA AREIA
Caça-talentos e diretor da agência 40 Graus Models, Sérgio Mattos, 50, diz que "o corpo do brasileiro/a é o ideal no sonho do mundo todo". "E ainda tem o gingado, o tal do borogodó, que faz a diferença", explica Mattos, que tem em seu "casting" beldades como Ana Beatriz Barros.
Como no Rio, particularmente na praia, muita gente é modelo, ator ou já fez "Malhação", a areia se transforma numa verdadeira passarela. "É o melhor lugar para quem cuida do corpo se exibir no verão", diz a modelo Taís Sá, 18. "É o nosso troféu."
A garota de Niterói conta que intensificou o programa de exercícios às vésperas da temporada ensolarada.
Faz pilates duas vezes por semana. Corre todos os dias de manhã na areia e mantém uma alimentação à base de frutas, legumes e peixe. Para ela, o corpo da vez é sustentado por dois pilares: pernas e abdômen torneados. "Mas nada exagerado", avisa.
Refrigerante ou fritura nem mesmo em pensamento, avisa a morena de olhos verdes, 1,76 m distribuído em 54 kg, 84 cm de busto, 62 cm de cintura e 89 cm de quadril.
Para levar os "glúteos às alturas", ela ainda mantém uma rotina de treinos de suspensão de caneleiras de 1,5 kg. São 20 repetições em cada uma das três séries.
Nas academias cariocas, bumbum, pernas, abdômen e barriga disputam a atenção dos frequentadores.
No Leblon, em uma das 17 unidades que a academia Bodytech possui no Rio, o treino sensação da temporada é o "20 Minutes Workout". Curto e intenso, tem como propósito secar tudo, do braço à barriga. E, é claro, enrijecer nádegas, segundo o preparador físico Rodolpho Filho, 43.
De pernas, peitoral e lábios definidos, o modelo Kim Freire, 20, encara uma maratona diária de atividades físicas. Anda de skate e bike, surfa e faz duas horas de academia -só de claras de ovos, o rapaz consome seis por dia.
Mesmo assim, jura que não é preocupado com "essa coisa de corpo". "Cada um fica feliz com o que tem. O importante é se sentir bem."
"Acho que não deve existir um padrão", afirma ele, cabelos encaracolados, olhos ora azuis, ora esverdeados, que costuma ser chamado na praia da Reserva, no Rio, de o "Brad Pitt do surfe".
Segundo Fernanda Thedim, 32, autora de "Corpo Novo, Vida Nova" (Editora Casa da Palavra), onde todo mundo fica de biquíni e sunga "não tem como fugir dessa preocupação com corpo".
Ela chegou a pesar 127 kg. Em um ano, perdeu 55. "Jamais me esquecia de levar a canga, porque não cabia mais na cadeira de praia", conta. "Podia até ter vergonha do meu corpo, mas nunca deixei de ir à praia por causa disso."
Para a também escritora Ivana Arruda Leite, autora de "Ao Homem que Não me Quis" (Agir), o culto ao corpo é o retrato da "nossa decadência enquanto seres pensantes". Ela diz mais: "E a vaidade masculina, quando vai além do pente e da escova de dentes, é excessiva".
Seu colega Reinaldo Moraes, de "Pornopopéia" (Objetiva), resume assim a questão do tão sonhado corpo perfeito: "Cabeça, tronco e membros, menos pança, papada, pelanca, celulite e joanete".