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domingo, 26 de janeiro de 2014

JOAN BAEZ : ''Os anos 60 nunca mais serão repetidos"

Cantora se apresentará pela primeira vez em Porto Alegre no dia 19 de março

Ela foi a maior expressão feminina da contracultura nos anos 60 e participou ativamente daquela mágica, transformadora e explosiva década. Ela cantou "We Shall Overcome" durante a Marcha sobre Washington por Trabalho e Liberdade, do célebre discurso de Martin Luther King, em 1963: "I have a dream" (eu tenho um sonho). Tocou em Woodstock, foi ativista contra a Guerra do Vietnã e inspirou Vlacav Havel em sua primeira luta pela República Checa. A música e o ativismo político fizeram de Joan Baez uma das mais importantes compositoras e intépretes da geração dos anos 60. 


A cantora de 73 anos se apresenta pela primeira vez em Porto Alegre, no dia 19 de março, no Auditório Araújo Vianna, em Porto Alegre, com o show "An Evening With Joan Baez". No Brasil, ela também fará show no dia 21 no Rio de Janeiro e no dia 23 em São Paulo. Nas outras capitais da América do Sul, como Buenos Aires (6 e 7 de março), Montevidéu (11 de março) e Santiago (14 e 15 de março), a turnê está sendo batizada de Gracias a La Vida, em alusão ao disco de 1974, todo cantado em espanhol, cuja faixa-título é a música de Violeta Parra, imortalizada por Mercedes Sosa. 

No repertório, estão previstas canções clássicas na voz de Joan Baez como "Diamonds and Rust", "Deportee", "Imagine", de John Lennon, "Gracias a La Vida", de Violeta Parra; "The Night They Drove Old Dixie Down", da The Band; e "It´s All Over Now, Baby Blue", de Bob Dylan. 

Em 2008, a compositora e intérprete folk norte-americana comemorou 50 anos de carreira com turnês pelos Estados Unidos e Europa. Também lançou o CD Day After Tomorrow, produzido pelo cantor e compositor Steve Earle, com composições de Earle, Elvis Costelo, T Bone Burnett, Patty Griffin. O álbum marcou a volta de Joan ao Top 200 da Billboard, alcançando na semana de lançamento a posição de número 128, após 29 anos, desde o disco Honest Lullaby, de 1979. A cantora foi o principal nome das chamadas músicas de protesto, sendo inclusive proibida, em 1981, pelo Governo Militar de realizar shows no Brasil.

Joan foi quem impulsionou a carreira de Bob Dylan, em 1962, quando Robert Allen Zimmerman ainda era um desconhecido. Eles namoraram durante a década de 60. Em 1982, ela foi apresentada ao fundador da Apple, Steve Jobs - ele então com 27 anos de idade e ela 41. Eles namoraram durante algum tempo. Entre as muitas honrarias concedidas a ela, uma delas é a Lifetime Achievement Award, a maior honra que a Academia de Gravação (Recording Academy) pode conceder. 

Ao longo dos 56 anos de carreira, foram 32 álbuns de estúdios e dezenas de compilações. O mais recente álbum, “Day After Tomorrow”, foi elogiado pela crítica e indicado ao Grammy. Seu lançamento foi seguido pelo documentário “Joan Baez: How Swet The Sound”, da série PBS American Masters.
Em entrevista ao Correio do Povo, Joan Baez fala sobre a impossibiidade de repetir a atmosfera dos anos 60, sobre o show de março em Porto Alegre, a relação "zero" que tem com Dylan, os protestos ao redor do mundo, inclusive os do Brasil, sobre Mercedes Sosa e também o fato de levar uma vida mais reservada e quase não ouvir música no seu tempo livre. 

Correio do Povo - Qual a diferença da música feita nos anos 1960 e nos anos 2000? 
Joan Baez - Há uma grande diferença. Os anos 60 nunca mais serão repetidos. Aqueles 10 anos foram cercados de mágica, por uma explosão de talento e com uma atmosfera política ímpar. Alguns grupos mais jovens nos anos 2000 no rock e até mesmo no folk estão tentando criar esta atmosfera, aproveitando a divulgação pela internet, pois sentem que precisam preencher este espaço vazio do ativismo e da tomada de consciência política, mas aquela atmosfera dos 60 não voltará mais. Foram os anos de Beatles, Rolling Stones, Joni Mitchell, Bob Dylan. Será difícil surgir tanta gente boa em uma só década. 

CP - Você participou da Marcha sobre Washington por Trabalho e Liberdade, no qual Martin Luther King disse que tinha um sonho. Qual seria o seu sonho de direitos civis na atualidade?
Joan Baez - O meu sonho é que os minimos direitos civis sejam respeitados. Que a aliança, o respeito e boa convivência entre os negros e brancos avance e seja uma realidade. O presidente Obama tenta fazer algo a respeito, mas ele não governa sozinho. Só o fato de ele ser um presidente negro fez com que nos últimos seis anos houvesse algumas mudanças radicais neste sentido. Muito ainda há de ser feito e gostaria que Obama não caísse na armadilha das reuniões matinais com militares e outros interesses que não os sociais. 

CP - Você conhece algo da música brasileira? 
Joan Baez - Eu não tenho ouvido muito música, nem em português ou espanhol, até mesmo em inglês. Um dia destes eu consegui ouvir alguns discos do Willie Nelson e gostei muito. Já conhecia a música dele, mas não tinha ouvido com calma. Do Brasil, eu me lembro de uma música, que era para a montadora Fiat e foi associada aos protestos das ruas em 2013, Come Out of the Street (Vem pra rua, interpretada pelo vocalista do Rappa, Falcão). Eu tenho vivido um pouco afastada, curtindo pequenos prazeres, como pegar os ovos das galinhas. 

CP - Como é a sua relação com Bob Dylan atualmente? 
Joan Baez - É zero, o que não me impede de ter os melhores sentimentos pela música dele e pelas canções que marcaram uma época e que continuarão sendo sempre imortais. 

CP - Você ainda compõe músicas? Quais os temas que ainda renderiam canções suas?
Joan Baez - Eu compus durante mais de 30 anos, depois parei, não sei por quê. Se eu estivesse compondo, os temas seriam as mil mudanças pelas quais passa o mundo e sobre as coisas que teriam que mudar nos direitos civis, pobreza, guerras, estas coisas. 

CP - Uma das músicas que faz a sua conexão com a América Latina é Gracias a La Vida, de Violeta Parra, do disco de 1974, imortalizada por Mercedes Sosa. Você faz alguma alusão ou homenagem a Violeta ou a La Negra durante a apresentação?
Joan Baez - A Mercedes Sosa foi uma das figuras mais importantes da música de integração latino-americana e de protesto de todos os tempos. Tive a oportunidade de fazer concertos com ela e o cantor alemão Konstantin Wecker e foram dias inesquecíveis. O som da voz de Mercedes e a mensagem das suas músicas eram como um presente para a gente. Para esta turnê, vou com certeza cantar esta música e reverenciar a sua história. 

CP - Uma mensagem ao público de Porto Alegre. 
Joan Baez - Eu espero que vocês sejam tudo aquilo que se fala do público brasileiro. Pessoas que amam a música e que participam dos shows com uma paixão inigualável. 





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