Índices reduzem em populações com maior acesso ao benefício.
Estudo foi coordenado por pesquisadora brasileira radicada em Londres.
Para a pesquisadora, a questão da mortalidade em idosos é negligenciada entre as questões de saúde pública no mundo.
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Um estudo divulgado nesta semana no jornal de livre acesso "PLoS Medicine" mostra que o nível de educação formal que as pessoas recebem no começo da vida provocam a redução das taxas de mortalidade entre idosos de países da América Latina e de nações como a China e a Índia.
O trabalho foi conduzido por uma equipe de pesquisadores liderada pela brasileira Cleusa Ferri, professora afiliada da Escola Paulista de Medicina (Unifesp) e que também trabalha na King's College, de Londres.
Foram reunidos dados de 12.373 pessoas acima de 65 anos em seis países da América Latina, além da Índia e China, que haviam sido avaliadas anteriormente entre 2003 e 2005.
A ideia do grupo era pesquisar sobre as taxas de óbito em países onde as doenças infecciosas deixaram de ser a causa principal de morte da maioria da população. Agora, essas nações em desenvolvimento passam a ter a maioria das mortes em idosos ligadas a problemas crônicos cardiovasculares como os derrames cerebrais (AVCs).
Os dados mostraram aos pesquisadores que quanto maior o nível de educação das pessoas, maior serão as chances de arranjar emprego e, consequentemente, de garantir melhores condições de saúde. A educação seria até mais importante do que os indicadores de renda para definir o quanto uma pessoa irá viver, segundo o estudo.
Para que o sucesso do acesso à educação seja ainda maior, os autores sugerem que as nações em desenvolvimento busquem estender os benefícios sociais como serviços adequados de saúde à toda a população, especialmente os mais velhos.
Comparação
Ainda que os dados não possam ser extrapolados para a realidade brasileira, Ferri afirma que o Brasil deve apresentar um panorama parecido aos de países como Peru, Venezuela e México. "O nosso país está em um estágio de transição assim como essas nações da América Latina. Nossa realidade já é bem diferente daquela que existe ainda hoje na China rural e na Índia", afirma a pesquisadora ao G1.
Na parte rural da China e na Índia, a maior parte dos idosos morrem dentro de suas casas e as taxas de mortalidade são bem maiores do que as norte-americanas, que foram usadas como padrão durante o estudo. Nesses lugares, as taxas de analfabestismo e de educação formal incompleta também são mais altas do que o restante dos países analisados no estudo.
"Nós interpretamos essa alta mortalidade e o fato das pessoas nessas duas regiões morrerem nos seus lares como reflexos de uma possível dificuldade de acesso aos serviços de saúde", explica Ferri.
Hora de morrer
A pesquisadora também chamou a atenção para o fato do crescimento da expectativa de vida no mundo demandar uma nova interpretação sobre as idades consideradas "normais" para se morrer.
"Todo mundo acha que é normal uma pessoa morrer simplesmente por ser velha", diz. "Mas o aumento da expectativa de vida empurra a idade ativa das pessoas cada vez mais para cima hoje em dia."
O fato das pessoas estarem vivendo por mais tempo pode fazer com que pessoas mais velhas contribuam ativamente para a sociedade durante mais anos. "Hoje morrer com 70 anos em países como os estudados é algo considerado precoce", afirma Ferri.
"É preciso pensar em políticas de saúde que levem em conta que essas pessoas estarão vivas e que precisam ser atendidas."
Para a pesquisadora, a questão da mortalidade em idosos é negligenciada entre as questões de saúde pública no mundo. "É preciso reduzir a morte entre idosos em todo mundo e em países parecidos com o nosso há um potencial ainda não explorado para se prevenir a morte precoce nessa idade."
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