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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Educação afeta taxas de mortalidade em países da América Latina


Índices reduzem em populações com maior acesso ao benefício.
Estudo foi coordenado por pesquisadora brasileira radicada em Londres.
Para a pesquisadora, a questão da mortalidade em idosos é negligenciada entre as questões de saúde pública no mundo.
Um estudo divulgado nesta semana no jornal de livre acesso "PLoS Medicine" mostra que o nível de educação formal que as pessoas recebem no começo da vida provocam a redução das taxas de mortalidade entre idosos de países da América Latina e de nações como a China e a Índia.


O trabalho foi conduzido por uma equipe de pesquisadores liderada pela brasileira Cleusa Ferri, professora afiliada da Escola Paulista de Medicina (Unifesp) e que também trabalha na King's College, de Londres.

Foram reunidos dados de 12.373 pessoas acima de 65 anos em seis países da América Latina, além da Índia e China, que haviam sido avaliadas anteriormente entre 2003 e 2005.
A ideia do grupo era pesquisar sobre as taxas de óbito em países onde as doenças infecciosas deixaram de ser a causa principal de morte da maioria da população. Agora, essas nações em desenvolvimento passam a ter a maioria das mortes em idosos ligadas a problemas crônicos cardiovasculares como os derrames cerebrais (AVCs).

Os dados mostraram aos pesquisadores que quanto maior o nível de educação das pessoas, maior serão as chances de arranjar emprego e, consequentemente, de garantir melhores condições de saúde. A educação seria até mais importante do que os indicadores de renda para definir o quanto uma pessoa irá viver, segundo o estudo.
Para que o sucesso do acesso à educação seja ainda maior, os autores sugerem que as nações em desenvolvimento busquem estender os benefícios sociais como serviços adequados de saúde à toda a população, especialmente os mais velhos.

Comparação
Ainda que os dados não possam ser extrapolados para a realidade brasileira, Ferri afirma que o Brasil deve apresentar um panorama parecido aos de países como Peru, Venezuela e México. "O nosso país está em um estágio de transição assim como essas nações da América Latina. Nossa realidade já é bem diferente daquela que existe ainda hoje na China rural e na Índia", afirma a pesquisadora ao G1.
Na parte rural da China e na Índia, a maior parte dos idosos morrem dentro de suas casas e as taxas de mortalidade são bem maiores do que as norte-americanas, que foram usadas como padrão durante o estudo. Nesses lugares, as taxas de analfabestismo e de educação formal incompleta também são mais altas do que o restante dos países analisados no estudo.
"Nós interpretamos essa alta mortalidade e o fato das pessoas nessas duas regiões morrerem nos seus lares como reflexos de uma possível dificuldade de acesso aos serviços de saúde", explica Ferri.

Hora de morrer
A pesquisadora também chamou a atenção para o fato do crescimento da expectativa de vida no mundo demandar uma nova interpretação sobre as idades consideradas "normais" para se morrer.
"Todo mundo acha que é normal uma pessoa morrer simplesmente por ser velha", diz. "Mas o aumento da expectativa de vida empurra a idade ativa das pessoas cada vez mais para cima hoje em dia."

O fato das pessoas estarem vivendo por mais tempo pode fazer com que pessoas mais velhas contribuam ativamente para a sociedade durante mais anos. "Hoje morrer com 70 anos em países como os estudados é algo considerado precoce", afirma Ferri.
"É preciso pensar em políticas de saúde que levem em conta que essas pessoas estarão vivas e que precisam ser atendidas."

Para a pesquisadora, a questão da mortalidade em idosos é negligenciada entre as questões de saúde pública no mundo. "É preciso reduzir a morte entre idosos em todo mundo e em países parecidos com o nosso há um potencial ainda não explorado para se prevenir a morte precoce nessa idade."


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