Depois do importante papel que desempenharam em eventos recentes como as revoluções da chamada Primavera Árabe, o movimento "Ocupe Wall Street" e os distúrbios em Londres em 2011, as redes sociais passaram a ser vistas como uma nova fonte de preocupação para a segurança das Olimpíadas de 2012.
A necessidade de o planejamento do evento levar em conta a velocidade da disseminação e troca de informações na internet foi ressaltada por diversos especialistas na 2ª Conferência Internacional em Segurança no Esporte, encerrada ontem em Doha, no Catar.
Depois das Olimpíadas de Pequim, onde a polêmica foi gerada não pelo excesso, mas sim pela falta de liberdade na internet, os Jogos de Londres são os primeiros a conviver com a nova força das redes sociais e das tecnologias digitais, aponta o consultor de segurança do Comitê Olímpico Internacional (COI), Peter Ryan.
"De lá para cá vimos um desenvolvimento enorme em tecnologias digitais e mídias sociais e as forças de segurança precisam dominar essas novidades, saber administrá-las, usá-las e monitorá-las", afirma.
Monitoramento
Brian Burridge, vice-presidente de marketing estratégico do grupo Finmeccanica, que desenvolve produtos de defesa e segurança, afirma que a indústria de segurança vem avançando "enormemente" no monitoramento de conteúdo pela internet nos últimos dois anos.
"Hoje há sistemas que permitem obter uma amostra de tudo, e-mails, Facebook, Twitter, o que seja", diz. "Estar a par ou de preferência à frente do lugar de onde o problema está vindo é um aspecto vital para a segurança", afirma.
Presidente da Interpol, Khoo Boon Hui aponta para as redes sociais como um aliado em potencial no combate ao crime. Como exemplo, ele cita o quebra-quebra ocorrido em Vancouver, no Canadá, após a derrota dos Canucks em uma final de hóquei sobre o gelo.
"A polícia estabeleceu um site interativo para identificar as pessoas envolvidas nos motins e recebeu milhares de informações. A colaboração com o público teve papel enorme na investigação", aponta. "Uma lição que aprendemos recentemente foi o uso das redes sociais."
Convocação
Ed Hula, fundador do Around The Rings, um site especializado em notícias sobre os jogos olímpicos, acredita que as redes sociais vão ser usadas para convocar manifestações e flashmobs em Londres.
Polêmica envolvendo empresa que patrocinou estádio olímpico em Londres pode gerar protestos
Para ele, adeptos de movimentos como "Ocupe Londres" podem usar a Olimpíada de uma maneira "arteira" e causar distúrbios na cidade.
A polêmica em torno da empresa Dow Chemicals, patrocinadora do Estádio Olímpico da capital britânica e dona de uma subsidiária responsável por um dos piores acidentes ambientais da Índia, em 1984, também pode levar protestos a serem convocados, considera.
Peter Ryan afirma que a polícia não pode ser pega de surpresa por acontecimentos que são combinados em sites abertos, "como uma flashmob convocada pelo Twitter para a Trafalgar Square", exemplifica.
Boas intenções
Os especialistas afirmam que, mesmo que as intenções não sejam más, as forças de segurança devem estar cientes dos acontecimentos pelo potencial de mobilização das redes sociais.
"Quando as pessoas estão dançando e cantando na rua, geralmente é inofensivo, mas as coisas podem crescer. Mesmo se divertindo, mil pessoas podem facilmente bloquear o trânsito ou atrapalhar o fluxo de um evento sem deliberadamente querer causar problemas", aponta.
No entanto, não é só na segurança que Londres 2012 terá um primeiro teste nas redes sociais. Dentro dos estádios, as novas dinâmicas possibilitadas por essas mídias serão exploradas e devem gerar novas formas de interação, afirma Michael Payne, consultor de marketing esportivo e um dos conselheiros do Rio na candidatura para os Jogos de 2016.
Recentemente, ao participar de um evento-teste para a modalidade do ciclismo em Londres, ele se surpreendeu ao notar que os tuítes do público estavam sendo realimentadas para dentro da instalação olímpica, afetando diretamente o comportamento da plateia.
"Isso criou uma nova interação, com comandos para as pessoas fazerem 'olas' ou brincadeiras ou desafios", diz ele, lembrando o tuíte que desafiou o prefeito de Londres, Boris Johnson, a pegar sua bicicleta e se juntar à competição.
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