Incêndio no Leblon: exonerado comandante do quartel da Gávea
Morador diz que avisou sobre o fogo ao 193 às 23h20m; bombeiros informam que foram chamados às 23h24m
O Globo
RIO — Após a tragédia do Leblon, na noite de domingo, quando um casal se jogou do quarto andar de um prédio para fugir de um incêndio, o destacamento do Corpo de Bombeiros da Gávea passará por mudanças e ganhará novo status. Assim o secretário estadual de Defesa Civil e comandante da corporação, coronel Sérgio Simões, justificou a decisão anunciada na terça-feira de substituir o atual comandante do quartel, capitão José Carlos Constantino, pelo titular do Grupamento de Ricardo de Albuquerque que tem uma patente mais alta, o tenente-coronel, Roberto Gomes. Além da troca, a medida para “encorpar” o destacamento, que passará a funcionar quase como um subgrupamento, incluirá a transferência para a unidade de cerca de cinco oficiais. Hoje, além do comandante, apenas praças atuam no quartel.
— Já era uma medida que estava sendo estudada por uma série de eventos que aconteceram na região, como o incêndio na casa do marchand (Jean Boghici) no ano passado, em Copacabana. A ideia é robustecer o destacamento, que hoje tem cerca de 50 homens — disse o coronel Simões.
Vizinhos consternados paravam a toda hora na terça-feira em frente ao Edifício Tanger, na Rua Venâncio Flores, no Leblon, onde o incêndio causou a morte do desembargador Ricardo Damião Areosa, de 57 anos, e de sua mulher, Cristiane Teixeira Pinto, de 33. Além da tristeza, o clima entre as pessoas que acompanharam o drama do casal era de indignação com a informação do Corpo de Bombeiros de que o socorro teria levado apenas seis minutos para chegar ao local. Testemunhas garantem que a demora foi de pelo menos 35 minutos. As labaredas teriam começado pouco antes das 23h20m. Desde então, registros de ligações nos celulares dos moradores da rua comprovam as tentativas de pedido de ajuda à corporação. O primeiro carro teria chegado por volta das 23h55m, afirma quem estava lá na hora do fogo.
O estudante de engenharia Ricardo Birbeire, por exemplo, que jantava num restaurante perto do local, foi um dos primeiros a chegar em frente ao prédio. Ao ver as chamas, ligou para o 193, número de emergência dos bombeiros. Na primeira ligação, às 23h20m, tocou, tocou, e nada. Na segunda, feita segundos depois, ainda às 23h20m, conseguiu falar. Mas, ao informar sobre o incêndio, escutou uma resposta de que o deixou aliviado: a atendente disse que o Corpo de Bombeiros já fora notificado. Mas, ao ler nos jornais ontem as afirmações dos bombeiros de que teriam recebido o chamado às 23h24m e chegado ao local às 23h30m, ficou revoltado.
— É mentira que só foram avisados às 23h24m. Eu mesmo liguei quatro minutos antes, e a atendente falou que já sabia do incêndio. Os bombeiros também não demoraram apenas seis minutos. Ninguém se jogaria da janela se fossem somente seis minutos. Foi muito mais. Eu não anotei a hora da chegada da primeira equipe, mas a segunda, que veio com a escada Magirus, com certeza chegou depois de 0h20m — diz Ricardo, que fez uma foto do registro de chamada de seu celular para comprovar a ligação que fez.
Vizinhos ligaram até para o 192
Morador de um prédio em frente ao que pegou fogo, um homem que preferiu não se identificar também contou que ligou para números de emergência quando viu as labaredas. Nas primeiras tentativas, diz ele, telefonou para o 193, mas não foi atendido. Às 23h19m, recorreu ao 192, do Samu. Um atendente disse que avisaria aos bombeiros. Mas, depois disso, diz ele, foram quase 40 minutos de espera.
— Quando chegaram, o fogo já tinha lambido o apartamento — afirmou ele.
O Corpo de Bombeiros confirma que quando a primeira equipe chegou ao local o casal já tinha se atirado.
Outro vizinho, Kleber Rossi, estava no prédio ao lado, quando ouviu os gritos de socorro. Ele conta que correu para a janela, onde conseguiu ver o apartamento em chamas. Logo desceu do prédio. E ainda no elevador conseguiu contato com o 190, da PM.
— A PM chegou antes dos bombeiros. Mas não podia entrar. Ainda ouço os gritos de socorro. E vem à minha cabeça o sentimento de impotência por não ter podido fazer nada. Imagino o casal preso e o desespero que deve ter sido — afirmou, enquanto dois de seus vizinhos diziam que tentaram, sem sucesso, entrar em contato com o 193.
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