Especialistas apostam em cardeal gaúcho como um dos favoritos no conclave que começa na terça
O arcebispo de São Paulo Odilo Scherer, 63 anos, chefe da maior arquidiocese do Brasil – país com maior número de católicos no mundo – é forte candidato a ser eleito Papa. O cardeal gaúcho é um conservador moderado e tem fama de acessível e bom administrador.
Scherer – natural de Cerro Largo – é considerado um dos mais fortes candidatos da América Latina à sucessão de Bento XVI, assim como Leonardo Sandri, cardeal argentino de origem italiana, que trabalha no Vaticano como prefeito da Congregação para as Igrejas Ocidentais.
Para especialistas, Scherer é a melhor aposta
"Eu diria que Scherer é a melhor aposta", afirmou o americano John Allen Jr, respeitado especialista em Vaticano e autor de vários livros sobre a igreja católica. "Ele tem uma boa reputação e é admirado aqui (no Vaticano)", disse Allen.
O professor de teologia moral da PUC de Campinas, padre José Antonio Trasferetti, conhece Scherer muito bem. "Fomos colegas de 1989 a 1991, onde fizemos juntos nosso doutorado em teologia", explicou Trasferetti. Scherer "tem todas as qualidades para ser um bom Papa", estimou o padre, que o descreveu como um "conservador moderado" em assuntos como doutrina e temas sociais.
"Ele tem a cabeça aberta, é um bom comunicador e um bom administrador. É a pessoa certa para abrir um diálogo entre as várias facções dentro da Igreja", afirmou Trasferetti. Segundo ele, Scherer conhece bem os problemas sociais de São Paulo, uma enorme cidade cosmopolita de 11 milhões de habitantes, onde supervisa paróquias com altos níveis de pobreza, violência, desemprego entre os jovens e falta de serviços básicos.
Arcebispo se preocupa com avanço das igrejas evangélicas
O arcebispo Odilo Scherer expõe regularmente suas opiniões sobre assuntos importantes no site da arquidiocese de São Paulo e em jornais. Também é ativo no Twitter e tem mais de 26 mil seguidores na conta @DomOdiloScherer.
No passado, ele criticou a Teologia da Libertação que nasceu na América Latina e foi marginalizada por Bento XVI por utilizar "o marxismo como ferramenta de análise", ainda que tenha apoiado sua luta contra a injustiça social e a pobreza. Scherer se preocupa com a crescente força das igrejas evangélicas no Brasil em detrimento do catolicismo.
Os cristãos evangélicos subiram de 26,2 milhões (15% da população) em 2000 para 42 milhões (22%) em 2010, enquanto a proporção de católicos caiu para 63%, contra 73,6% em 2000. No passado, ele criticou o estilo evangélico do famoso padre Marcelo Rossi, fenômeno que já vendeu milhões de CDs, DVDs e livros.
"Os padres não são celebridades", disso Scherer em 2007. "A missa não deve transformar-se em um show". Mesmo assim, Scherer assistiu em novembro passado à missa de inauguração do maior templo católico do Brasil, ministrada por Rossi.
No início de fevereiro, o cardeal Scherer indicou que a igreja católica tem enfrentado desafios durante seus 2 mil anos de vida, mas que agora precisa enfrentar a "pós-modernidade". O arcebispo se referia assim a "uma cultura sem valores de referência sólidos" e a uma subjetividade "que leva ao relativismo total". O brasileiro também estimou que a nacionalidade e a idade não devem ser fatores essenciais para eleger um novo Papa.
O arcebispo acompanhou Bento XVI em grande parte da última visita ao Brasil – que tem 123 milhões de católicos entre a população de 194 milhões de pessoas – em maio de 2007.
Biografia
Scherer nasceu em 21 de setembro de 1949 numa família de origem alemã de Cerro Largo, município de 13 mil pessoas que fica nas Missões.
Ordenado sacerdote em 1976, Scherer obteve um doutorado em teologia sagrada em Roma, em 1991. Integrou a Congregação para os Bispos da Cúria Romana de 1994 a 2001 e foi secretário geral da Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB) de 2003 a 2007.
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