Pesquisar aqui

sábado, 11 de maio de 2013

' VIGILANTE RODOVIÁRIO' - de volta


Hit da TV brasileira nos anos 1960, série ‘O vigilante rodoviário’ ganha ‘remake’
Novo seriado será protagonizado pelo filho do inspetor Carlos, o patrulheiro original
Cenário do novo programa será uma cidade do interior de São Paulo

Alçado ao posto de herói (torto) do imaginário nacional a partir do estrondoso sucesso do filme “Tropa de elite 2” (2010), o capitão Nascimento e sua fama de justiceiro podem estar com os dias contatos. O inspetor Carlos, primeiro homem da lei e da ordem a cativar o coração do público brasileiro, já ensaia sua volta. Pioneira no formato no Brasil, a série “O vigilante rodoviário” exibida pela extinta TV Tupi entre 1962 e 1963, ganhará, enfim, um remake na televisão.

O seriado original, produzido por Alfredo Palácios (1922-1977) e dirigido por Ary Fernandes (1931-2010), tinha o ator Carlos Miranda no papel-título e o cão pastor alemão Lobo como coestrela das peripécias do patrulheiro em torno da Rodovia Anhanguera, em São Paulo. O vigilante rodoviário era um policial sem truques nem efeitos especiais, que usava as armas comuns e andava pelas estradas a bordo de um Simca Chambord 1959 e ou de uma Harley-Davidson 1952 .

Diferentemente de Nascimento, o tira imortalizado por Wagner Moura na série de filmes dirigida por José Padilha, o inspetor Carlos agia estritamente dentro da lei. A nova versão do programa terá como protagonista o filho do vigilante original, que herdou o nome e a vocação do pai e irá resgatar os valores do bravo patrulheiro dos anos 1960, confrontando-os com o Brasil dos dias de hoje, com suas crises morais.

— A série tem um lugar cativo no inconsciente coletivo brasileiro. E, esteja certo, tudo isso está relacionado à escassez de heróis verdadeiros, moral ou eticamente inatacáveis — conta Maria Clara Fernandez, diretora de projetos especiais da Academia de Filmes, a produtora paulistana à frente do projeto, em associação com a Procitel, dos herdeiros de Ary Fernandes. — O novo vigilante quer promover uma reflexão sobre os valores morais contemporâneos, falar de violência urbana e do comportamento nas estradas. Queremos que ele possa chamar a atenção para problemas atuais de ordem pública, estimular um comportamento mais civilizado nas estradas, por exemplo. Enfim, fazer a sociedade refletir sobre seus problemas.

A nova versão começou a ser ventilada em 2001, foi abandonada em função de problemas de saúde de Fernandes, detentor dos direitos sobre o programa, mas ganhou novo impulso a partir do ano passado, quando entrou em vigor a Lei da TV Paga, que obriga as operadoras de canais por assinatura a abastecer sua grade de programação com três horas e meia semanais de produção nacional — metade delas com conteúdo independente. O Grupo Ink já está negociando a série com emissoras, não exclusivamente fechadas.
— O conceito do novo seriado é valorizar o estilo narrativo do folhetim tradicional — explica Newton Cannito, autor do roteiro dos 13 episódios da primeira temporada do programa. — Se um canal a cabo se interessar pelo projeto, é porque está almejando um espectro de público mais amplo, porque “O vigilante rodoviário” tem uma vocação popular. Não é um produto supersofisticado; ele é bem feito, sim, mas é para ser consumido como se fosse uma boa novela, por toda a família.


Maria Clara explica que muitos detalhes do projeto serão determinados pelas parcerias a serem fechadas, como as marcas dos veículos usados pelo protagonista ou o ator que vestirá seu uniforme. Num esforço de verossimilhança, os produtores e criadores do reboot da série vêm consultando representantes da Polícia Militar sobre procedimentos de trabalho e seus aspectos técnicos e logísticos.

Ao voltar-se para o interior do país, o novo “O vigilante rodoviário” promove uma ponte com o passado do personagem original, vivido por Carlos Miranda.
— O inspetor Carlos retorna à sua cidade natal, em busca de mais tranquilidade, e encontra o lugar em transformação, invadido por comportamentos e elementos típicos das metrópoles, como empresários corruptos e delinquentes juvenis — diz Cannito, ex-secretário do Audiovisual entre 2010 e 2011.

Mas a violência e a corrupção não são o foco do programa. Elas até estão lá, só que tratadas com mais sutileza. Há também espaço para o desenvolvimento de uma história de amor e para o reencontro com tipos excêntricos, como o amigo de infância que vira um fora da lei e o tio louco que só fala a verdade.

— Aos poucos, a gente vai descobrindo que ele sofreu um trauma na cidade grande e que essa volta às origens não será tão tranquila quanto ele imaginava. O vigilante vai aprendendo como funciona a cidade, que é afetada por poderes paralelos e pelo tráfico, fazendo de tudo para manter sua integridade e honestidade — conta Cannito.
Maria Clara, da Academia de Filmes, não fala em orçamento, para “não comprometer as negociações com os parceiros”, mas garante que a nova versão do seriado “não será barata”, pois envolve muitas sequências de ação.

— Diferentemente da época em que “O vigilante rodoviário” original foi ao ar, hoje dispomos de recursos técnicos e artísticos muito grandes. Decididamente, não é um produto barato, as histórias dos episódios exigem longos deslocamentos e cenas grandiosas, com perseguições e tiroteios — avalia a produtora. — Estamos falando de um programa independente, mas com um padrão técnico de alto nível.

Carlos Miranda, que hoje viaja pelo país fazendo palestras e participando de eventos automotivos, ainda tem frescas na memória as dificuldades de se fazer televisão no Brasil nos primórdios do meio. Numa era pré-videotape, “O vigilante rodoviário” era feito com película, como qualquer longa-metragem de cinema.

— Foi bem difícil, pois os recursos eram escassos, e não tínhamos tradição de produção de filmes para a TV. O esquema de trabalho foi baseado na experiência da equipe do Alfredo Palácios, que vinha do cinema — diz Miranda, de 79 anos, que se orgulha de ter feito parte de um projeto pioneiro. — O inspetor Carlos foi o primeiro herói nacional, pois, naquele tempo, só existiam na TV seriados estrangeiros, com valores e informações de outras culturas. O vigilante veio para mostrar o perfil do povo brasileiro, para que o público se reconhecesse no programa.

O projeto de repaginação de “O vigilante rodoviário” inclui o planejamento de ações transmidiáticas, como a criação de jogos infantis.

— O corpo do plano traz a possibilidade de fazermos um piloto em longa-metragem e de criarmos subprodutos com os personagens da série para a internet — antecipa Maria Clara. — Planejamos produzir um jogo chamado “A vida secreta do Lobo”, na internet, sobre o cachorro herói, direcionado às crianças. Há também uma ideia de fazermos um blog para o Zé do Guincho, um dos amigos do vigilante, com histórias sobre o personagem que conhece as estradas e canta música sertaneja.

A vida imita a arte:
Com o fim do seriado, em 1965, Carlos Miranda (acima, em foto de 2003) ingressou na Polícia Rodoviária do Estado de São Paulo. E seguiu carreira na corporação até 1988, quando foi reformado na condição de tenente-coronel.

Filmes e reprises:
“O vigilante rodoviário” motivou dois longas-metragens: “O vigilante contra o crime” (1962) e “O vigilante em missão secreta” (1964). A série foi reprisada pelas TVs Tupi, Cultura e Globo, nos anos 1970, e pelo Canal Brasil em 2009.

O piloto que não deu certo:
Nos anos 1970, Ary Fernandes conseguiu apoio da Embrafilme para fazer um piloto de uma nova série de “O vigilante rodoviário” em longa-metragem, com o galã do SBT Antônio Fonzar (ao lado). Na época, a instituição passava por dificuldades, e o filme, finalizado em 1978, foi engavetado. A cópia do piloto foi depositada na Cinemateca Brasileira e exibida pela primeira vez, há cerca de três anos, no Canal Brasil.

Cópias remasterizadas:
Uma caixa de DVD com os 35 capítulos da série original, em cópias remasterizadas, foi lançada no mercado em 2010, e ficou na lista dos títulos mais vendidos do ano.



JORNALISMORU. COM - A NOTÍCIA NA HORA EM QUE ELA ACONTECE 
17h - RU 1160AM - Fique muito bem informado . No Facebook acesse: jornalismoru.com

E-MAIL

Você pode ser um colaborador.

Envie suas sugestões para o e-mail :

pelotasdeportasabertas@hotmail.com

" Povo que reivindica seus direitos é melhor respeitado."