"Rocky, um Lutador" recebeu Oscar em1976 |
PATRICK HEALY
DO "NEW YORK TIMES"
Quando uma equipe de veteranos da Broadway propôs aos produtores de Nova York a adaptação para um musical do filme "Rocky, um Lutador", de 1976, a ideia provocou repúdio generalizado.
"As pessoas pensavam que estávamos propondo uma sátira", lembrou o compositor Stephen Flaherty, um dos vários ganhadores do prêmio Tony pelo projeto. Recrutados por Sylvester Stallone, o próprio Rocky original, Flaherty e seus colaboradores nunca tentaram a via da paródia. Mas a recepção fria por parte de investidores na Broadway nocauteou o musical até que, contou a letrista Lynn Ahrens, "apareceram uns alemães malucos".
Eram executivos da Stage Entertainment, a maior empresa europeia a apresentar grandes espetáculos musicais, como as peças "The Lion King", "Mamma Mia!" e "Tarzan". Eles vieram cheios de vontade de fazer crescer seu império multimilionário, especializado em adaptar musicais da Broadway (mesmo que tenham sido fracassos comerciais) para plateias de Hamburgo, de Madri, de Paris e de outras cidades.
"Rocky, das Musical" estreou em Hamburgo em 20 de novembro, numa produção de US$ 20 milhões --uma das mais caras até hoje. As resenhas têm sido extasiadas, e agora os produtores estudam uma possível produção na Broadway.
Embora a trama seja fiel à do primeiro filme da série "Rocky", o musical tem relativamente poucas cenas de boxe, nenhuma tentativa desajeitada de misturar lutas profissionais com dança ou acrobacias e cenário e iluminação imaginativos e discretos.
O diretor do musical, Alex Timbers, ele próprio indicado ao Tony, disse que seu objetivo foi fundir "o íntimo e o épico".
"Tentamos pensar nisso como um musical indie -a versão David Fincher de 'Rocky'", explicou.
"Buscamos adaptar algumas das cenas e dos cenários para trazer ao palco o tipo de personagem que você veria numa peça de Sam Shepard."
Quando Timbers assinou o contrato para a direção do musical, em 2011 --depois de inicialmente ter dito a seu agente que a ideia tinha "95% de chances de ser um horror"--, tornou-se o primeiro de uma sequência de céticos que mudaram de posição.
O primeiro artista seduzido pelo projeto foi Thomas Meehan, que recebeu um Tony pelo libreto do musical. No primeiro encontro que teve com Meehan, Stallone explicou sua visão: o filme era essencialmente uma história de amor entre duas pessoas solitárias que lutam para exprimir-se e acabam perseverando em função uma da outra.
"Imaginei a história ao estilo de 'Amor, Sublime Amor' ou 'Os Embalos de Sábado à Noite', com personagens quase ingênuos para os quais a platéia tem vontade de torcer", falou Stallone.
"Mas eu sabia que tinha que ter credibilidade. E que não poderia ser... qual é a palavra usada nos musicais? Exuberante demais."
Meehan persuadiu Stallone a ouvir a música de uma dupla da Broadway: Ahrens e Flaherty. Várias das canções que os dois tocaram para Stallone pela primeira vez, em 2006, quando ele estava na Filadélfia rodando a sequência mais recente do filme, estão no musical. É o caso de "Fight from the Heart", o grande número de Rocky no primeiro ato, em que ele tenta imaginar conselhos que poderia receber de seu herói, Rocky Marciano.
Essa canção é uma das várias baladas poderosas do musical, que também inclui o famoso tema de Bill Conti e até mesmo a canção de sucesso "Eye of the Tiger".
A maior parte das músicas inspiradoras desse filme acompanha as cenas de boxe do musical: uma luta com golpes baixos no início e a luta de 15 minutos do final.
Steven Hoggett, o coreógrafo indicado ao Tony, contou que tentou dar o maior realismo possível às cenas de boxe, sem machucar os atores.
Na luta final, transpiração e cortes com sangue misturam-se a reprises de canções que são cantadas por todos, menos Rocky e seu adversário, Apollo Creed.
Várias pessoas da plateia em Hamburgo disseram que gostaram, em especial, de assistir a um musical sobre boxe, em vista da popularidade do esporte no país, mas algumas pessoas se decepcionaram porque não houve golpes suficientes nas cenas de luta.
Se a equipe criativa ficou satisfeita com as reações ao show --e aliviada porque o musical não foi visto como uma profanação do filme--, os produtores da Stage Entertainment estão extáticos.
"As pessoas não acreditavam que esse musical pudesse funcionar, do mesmo modo como não acreditavam em 'Rocky'", disse Johannes Mock-O'Hara, diretor da companhia na Alemanha.
"Mas tanto o musical quanto o personagem têm a mesma mensagem: a importância de acreditar em si mesmo."