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terça-feira, 10 de janeiro de 2012

TERAPIA - Fazer Compras ?!


COMPRAS COMO TERAPIA ?

Por: Marlise Flório Real - Psicologa,

marliseflorioreal@yahoo.com.br

A mídia prega há muito tempo que para curar tristezas nada melhor e mais eficiente do que comprar e fazer a própria vontade, se presentear, não ficar desejando, ao contrário, satisfazer logo o desejo com o primeiro objeto que estiver ao alcance. Assim, a cada frustração um presente, a cada perda outro presente, a cada lágrima mais outro presente. Tal qual um bebê que não tolera esperar se está faminto e precisa ser alimentado imediatamente, adultos saem correndo para buscar e ter ao alcance das mãos o objeto desejado. Tal qual uma criança manhosa que precisa ter tudo, os adultos que não sabem controlar a angústia e tentam preencher os vazios com objetos e coisas, mesmo que sejam inúteis ou que nunca as usem.

Satisfação momentânea, prazer e sensações boas que logo se perdem porque surge o desejo de um novo objeto, um novo brinquedinho, um modelo diferente, uma outra marca e assim por diante. Estes comportamentos são próprios das pessoas compulsivas que passam a não controlar seus impulsos, não podem tolerar a espera, não enxergam que o que lhes falta não é o objeto comprado, sequer pensam o que estão fazendo. Muitas se dão conta na hora de ver as compras excessivas quando já estão em casa cheias de sacolas, outras quando veem que já estão colecionando determinados objetos como roupas, relógios, sapatos, bolsas... e outras se desesperam quando gastam mais do que têm e ficam com dívidas imensas por conta do impulso que comanda suas vidas.

 Tudo pode começar muito gradativamente e como vivemos numa época em que gastar e comprar faz parte dos hábitos de quase todo mundo, esse apoio da mídia que comprar como terapia só faz bem, envolve pessoas mais frágeis e desestruturadas, com transtornos de comportamento que buscam no supérfluo a solução dos seus problemas. Algumas pessoas se enganam e se desculpam pois como têm dinheiro disponível não ficam lesadas economicamente, mas a compulsão é a mesma. Tudo é em excesso, como se suas casas fossem lojas.

 Estes comportamentos afetam as relações familiares e, principalmente, as relações conjugais. Os casais brigam por conta dos gastos e das economias que vão pelo ralo, brigam por conta do efeito devastador na vida do casal e na criação e educação dos filhos. Como ensinar valores no meio do consumo exagerado e dos gastos despropositais? Como ensinar simplicidade se tudo fica colocado nas marcas e nas etiquetas? Como deixar uma criança brincar à vontade se ela veste uma roupa caríssima ou se ganha brinquedos que não pode desmontar e estragar? Como?

 Os adultos também ficam sem poder usar suas casas que são impecáveis e parecem vitrines de lojas, cozinhas onde parece que ninguém andou por ali fazendo comidas gostosas e cheirosas. Cheiros? Nem pensar! Assim, junto com a compulsão por comprar, vem a necessidade exagerada de limpeza e todos os excessos que acompanham. Também o mau humor daquele que nunca está feliz, até porque não consegue aproveitar o que tem e curtir os presentes que se deu.

São muitas as pessoas que sofrem com esses transtornos e envolvem os outros nesses seus comportamentos tornando a vida muito difícil de ser aproveitada. É preciso repetir e salientar que comprar não é terapia, comprar em excesso, pelo contrário, é doença! É preciso lembrar sempre que terapia é um processo sério, realizado com profissional habilitado para que os sofrimentos psíquicos e os comportamentos desajustados sejam melhorados e para isso se busca a causa, o trauma que um dia marcou a pessoa, deixando-a lesada, desencadeando os sintomas que aparecem. Assim, comprar é um sintoma que aparece para resolver, mesmo que inadequadamente, a dor traumática sofrida em alguma fase da vida. São mecanismos não saudáveis que as pessoas desenvolvem para curar suas feridas.

 Controlar o comportamento compulsivo é dos dos primeiros passos, mas encontrar a causa e a raiz do problema é essencial para a continuidade do processo. Seguir comprando e gastando como terapia é o grande engano e faz com que a doença progrida a passos largos, deixando as pessoas cada vez mais vulneráveis e com outros comportamentos associados como a mentira.

 Os familiares que fazem de conta não ver, até porque cansam disso tudo, precisam sim mudar de postura ou também serão envolvidos mais e mais nos sofrimentos e desajustes da vida em comum. Começam a adoecer junto e ter outros comportamentos que complementam a situação. Cuidado! Muito cuidado! Nessa rede que socialmente é estimulada e aceita a doença tem um lugar mais do que fértil!


pelotasdeportasabertas@hotmail.com

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