Com renda de classe média, trabalhador diz que só faz 'o básico'
Classe média tem renda per capita entre R$ 291 e R$ 1.019, diz governo.
Especialistas afirmam que muitas vezes estatística não reflete realidade.
Há quase dois anos, Cleriston Rodrigues Dantas, de 24 anos, deixou a
cidade de Tucano, no interior da Bahia, para trabalhar em São Paulo. Com
a renda mensal de cerca de R$ 800 que recebe como auxiliar de limpeza,
Cleriston faz parte da classe média brasileira, de acordo com os novos
critérios do governo, divulgados pela Secretaria de Assuntos
Estratégicos (SAE).
Estudo da pasta define como classe média no país famílias em que a renda por pessoa seja entre R$ 291 e R$ 1.019. Segundo o governo, esse universo representa 54% da população do país.
Auxiliar de limpeza |
De acordo com o relatado por Dantas, contudo, seu salário só dá para
fazer o básico. Dos R$ 800, R$ 350 vão para pagar sua parte no aluguel
de R$ 1.000 de um imóvel que divide com o irmão e a cunhada na cidade de
São Paulo. O resto vai para gastos com alimento, transporte, água e
luz. Para o lazer, ele revela que "às vezes dá um jeitinho", como
parcelar no cartão de crédito.
Se os R$ 800 já dão na risca, com R$ 291 ao mês, a faixa mínima por
pessoa para se enquadrar na classe média, segundo o governo, Dantas
afirma que não conseguiria viver na capital paulista. “Se fosse para eu
trabalhar com esse salário aqui, eu ficava na Bahia”, revela. “Lá a
gente vive de plantar feijão, milho, essas coisas. Eu nunca calculei
quanto eu ganhava por mês lá, mas mais do que R$ 291 eu ganhava”,
afirma, ressaltando, contudo, que os gastos no interior baiano eram
menores, porque vivia na casa dos pais.
Para o economista André Braz, da Fundação Getúlio Vargas (FGV),
apesar de os quase R$ 300 parecerem muito pouco ao mês para viver nas
cidades, é preciso levar em conta as diferenças regionais brasileiras na
hora de avaliar os valores estipulados pelo governo. “Esses intervalos
de renda, apesar de parecerem valores modestos quando a gente olha os
custos de vida de centros urbanos, são uma definição estatística. O
Brasil é um território cheio de diferenças”, avalia. “Às vezes, a
condição de vida de quem ganha R$ 290 no interior do Nordeste é
semelhante, equivalente a de quem ganha R$ 1.000 nos grandes centros
urbanos.”
O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos
(Dieese) calcula, mensalmente, o preço para a compra da cesta básica em
17 capitais. De acordo com o resultado de abril deste ano, em São Paulo
(a cesta mais cara), o preço foi, em média, de R$ 277,27. Na sequência,
estão Porto Alegre (R$ 268,10), Manaus (R$ 267,19) e Vitória (R$
262,14). Os menores valores foram encontrados em Aracaju (R$ 192,52),
João Pessoa (R$ 216,95), Salvador (R$ 217,92) e Fortaleza (R$ 218,87) - veja a lista completa.
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