Montadoras deixam topo da lista de remessas ao exterior
Folha on line
Pela primeira vez em oito anos, as montadoras instaladas no Brasil não figuram na primeira posição da lista dos setores que mais enviam remessas de lucros e dividendos ao exterior.
A liderança, que atingiu o ápice em 2008 ao chegar a R$ 5,6 bilhões, foi alvo de críticas por um sinal de descompromisso com investimentos no país, tônica central do aperto nas regras ao setor adotadas pelo governo.
Diante da necessidade de se posicionar melhor à concorrência, as montadoras reduziram pela metade o valor remetido às matrizes em 2012, atingindo R$ 2,44 bilhões.
O recuo no volume de remessas foi generalizado. A soma dos recursos caiu cerca de 25% no ano passado por questões conjunturais, como a depreciação do câmbio e a desaceleração na atividade.
A indústria automotiva chama atenção pela intensidade da queda, de 56%, que fez o setor ser superado pelo grupo de bebidas, um dos poucos a apurar crescimento (27%) entre os dois anos.
Entre as hipóteses apontadas por especialistas para o avanço na categoria, estão uma ligação maior com a evolução da renda e a consolidação de compras de grupos brasileiros por estrangeiros.
Em 2011, por exemplo, a Schincariol foi comprada pela japonesa Kirin.
REINVESTIMENTO
Já o recuo nas montadoras é associado à necessidade de reinvestimento no Brasil.
Letícia Costa, professora do Insper e especialista no setor automotivo, acredita que as marcas já começaram a separar recursos para fazer frente às exigências do novo regime automotivo, que tem metas de nacionalização, engenharia e pesquisa.
A Anfavea (associação das montadoras) prevê investimentos de R$ 13,8 bilhões para o cumprimento das metas.
Os especialistas destacam também a dificuldade para alcançar rentabilidade em meio a um cenário de maiores competição e custos.
"A partir do segundo semestre de 2011, a rentabilidade começou a cair, mas os custos continuaram a crescer. O desafio da rentabilidade é uma realidade para todas as marcas", diz Stephan Kesse, da Roland Berger.
A tendência é que o volume de remessas do setor fique relativamente estável nos próximos anos. "Para se recuperar, o volume teria que crescer muito ou a rentabilidade se recuperar. Não vejo isso acontecer", diz Letícia.
Segundo o presidente da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e Globalização Econômica), Luís Afonso Lima, o volume de remessas do Brasil, embora inferior ao resto do mundo, é um sinal de que o país tem apelo para atrair investimentos.
"Se as empresas não têm possibilidade de remunerar acionistas no exterior, a continuidade [do negócio] fica ameaçada", afirma.
Jornalismo RU.com - 17 h de seg. a sex - RU 1160AM