Brasil é o país dos ingressos mais caros do mundo
Em mais um levantamento realizado pela Pluri Consultoria, desta vez o assunto abordado foi a profunda crise de público nos estádios que afeta o futebol brasileiro. Pesquisas anteriores mostraram que a média de público no Futebol Brasileiro como um todo anda abaixo de 4,6 mil torcedores por jogo, que vão desde o Brasileirão da Série A com 13 mil pessoas em média, até os campeonatos Estaduais e suas quase 3 mil testemunhas por jogo.
Essa é uma situação grave, um risco real ao futebol do País, e não há como negar que por trás deste problema há um pressuposto equivocado cultivado por anos dentro dos clubes, de que a paixão pelo futebol faz com que o torcedor aceite qualquer desaforo para ver de perto o seu time do coração. No passado isso poderia se justificar, mas a realidade mudou, e hoje o futebol tem que disputar mercado com outras opções de entretenimento, num mundo onde a preocupação em atender bem ao consumidor é a regra.
Infelizmente, chegamos a um ponto em que vários fatores agem para manter os torcedores longe dos estádios, e resolverum ou outro fator isoladamente não trará o torcedor de volta, é preciso atuar de forma ampla, sob todos os aspectos.
A seguir estão os 17 principais motivos identificados, divididos entre os de alto impacto e os de médio e baixo impacto:
Fatores de alto impacto sobre o público:
Violência – A cada problema de segurança dentro ou fora dos estádios, piora um pouco mais a imagem do futebol como alternativa de entretenimento. E nesse cenário é justamente a família, o melhor perfil de público-alvo, a que mais se afasta;
Preço dos ingressos – Nos últimos anos o preço dos ingressos disparou no Brasil, enquanto a qualidade do produto entregue ao torcedor (cliente) permaneceu muito ruim. E com o aumento da oferta (maior número de jogos) decorrente de um calendário ruim, a situação se agrava. Existe uma correlação direta (beta) entre o aumento dos preços e a queda do público médio nos estádios mas, paradoxalmente, quanto mais vazio fica o estádio, mais o preço do ingresso sobe. É uma estranha forma que o futebol brasileiro encontrou de revogar a lei da oferta e procura;
Qualidade dos estádios – A nova geração de estádios mudará o nosso cenário em termos de equipamentos. Porém, considerando as arenas inauguradas recentemente, continuamos com o mesmo padrão de serviços de sempre;
Oferta de pay per view – Não há como negar que a possibilidade de assistir a vários jogos com conforto, comodidade e segurança, próximo aos amigos e à família são vantagens que o pay-per-view oferece em relação à ida ao estádio, principalmente a um custo próximo a R$ 70/mês. Porém, não podemos esquecer que a TV paga aos clubes por este direito de transmissão, cabendo a eles calcular se o que recebem por isso compensa a perda de receita resultante da fuga do torcedor;
Outras opções de entretenimento (cinemas, teatro, bares, praia, etc) – No passado, ir ao jogo de futebol era uma das poucas alternativas de diversão para boa parte da população, um dos motivos a explicar os grandes públicos de décadas atrás. Hoje o futebol está sob ataque claro de diversas outras formas de entretenimento, geridas de forma muito mais profissional e orientadas a oferecer ao cliente o máximo possível como experiência de lazer. E na medida em que o preço do ingresso aumenta, o futebol disputa justamente o público que mais tem opções de entretenimento para consumir;
Pouca importância dos jogos – Com competições extensas e pouco atraentes (estaduais) a maior parte dos jogos tem pouca importância, concentrando a atenção dos torcedores dos principais times (os que tem mais torcida) apenas nos jogos decisivos;
Baixa qualidade / tradição do adversário – Com campeonatos que misturam equipes profissionais com semi-profissionais (estaduais), os torcedores escolhem ir apenas aos jogos de qualidade menos ruim;
Nível de competitividade do time local / má posição na tabela – Fase ruim, estádio vazio. Essa é uma máxima para a maior parte dos clubes, provando que a ida ao jogo de futebol não é vista pelo torcedor como uma experiência plena de entretenimento. Nesse ponto, nada melhor do que se espelhar nos esportes americanos.
Fatores de Médio e Baixo impacto sobre o público
Horário dos jogos – é certamente um fator negativo, mas a quantidade de jogos que ocorrem fora do horário convencional é relativamente pequena em relação ao total de jogos, portanto seu impacto sobre a presença total de público nos estádios é menor do que parece;
Dificuldade na compra de ingressos – Um bom castigo para o torcedor é enfrentar filas intermináveis para comprar ingressos, prática medieval em pleno século XXI. E o que dizer de comprar pela internet e depois ter que entrar numa fila para pegar o ingresso? Tem isso!;
Acesso ruim ao estádio (incluindo localização, acesso e transito no entorno) – Muitos estádios não sofrem deste problema, mas em alguns certamente é um fator que faz o torcedor pensar 10 vezes antes de ir ao jogo;
Oferta de Meios de transporte – Em alguns estádios, a baixa oferta de meios de transporte que acessam o estádio desestimula a ida do torcedor. A situação se agrava nos jogos que iniciam mais tarde;
Oferta de estacionamento (custo, quantidade de vagas e proximidade) – Nada pior do que ir a um jogo tendo que pagar caro para deixar o carro longe, e sob os cuidados de flanelinhas, que simplesmente estão ali para cobrar um “pedágio” do torcedor;
Oferta de alimentação – Você conhece algum lugar onde se coma tão mal, pagando tanto, como um estádio de futebol?;
Oferta de serviços – Ao contrário do que ocorre na Europa e EUA, a oferta de produtos e serviços disponível para o torcedor é pequena, diminuindo a “atmosfera de jogo” que por si só seria um atrativo para o torcedor;
Clima – O problema afeta principalmente as cidades mais frias e chuvosas, em especial em estádios que não são preparados para dar ao torcedor o conforto que ele teria, por exemplo, se assistisse ao jogo em sua casa;
Excesso de jogos na TV – A overdose de jogos tem o seu efeito, mas a maioria das partidas que passa na TV (campeonatos europeus, jogos de seleções, etc) acontece em horários diferentes dos campeonatos pelo país, o que reduz o impacto deste fator sobre a ida de público aos estádios.
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