Por Cleyton Carlos Torres
Já foi mencionada outras vezes a importância sumária na ação do jornalista em adquirir novas habilidades que até muito recentemente eram colocadas como não pertencentes ao nosso leque de atuação ou, em alguns casos, consideradas até mesmo inapropriadas para um profissional de jornalismo. Disciplinas como marketing, programação, empreendedorismo e design começaram a ser tarefas corriqueiras no dia-a-dia de quem trabalha com informação jornalística ou até com a mera produção de conteúdo para a web.
Em pouco mais de 400 anos, os jornais não tiveram mudanças drásticas em relação à forma pela qual são consumidos ou manuseados. Papel jornal e tinta preta são as estruturas bases de um impresso. Muitos apontam a inserção das cores no jornalismo impresso como mero atrativo para conquistar leitores mais jovens ou despertar em leitores não habituais a curiosidade de folhear um jornal a cores. Porém, mesmo com a colorização do jornalismo, não mudamos a forma como ele é consumido ou manuseado.
Com as recentes crises envolvendo todo o setor das empresas de mídia, um dos focos principais para apaziguar os hematomas imputados pela queda brusca na circulação dos impressos foi recorrer à elaboração de novos modelos de negócios mais inovadores e consistentes com o contexto contemporâneo. Porém, a estética informacional acabou sendo esquecida por muitos veículos, onde a procura ainda se limitava em como vender um amontoado de conteúdo empacotado todas as manhã e entregue diariamente às bancas e aos assinantes.
Gênero híbrido
A estética informacional é a capacidade de reunir jornalismo e design sob uma mesma ótica: a da produção da notícia. Nos dias de hoje em muitos dos casos não basta apenas elaborar longos e profundos artigos de cinco ou dez mil caracteres e entrega-los à redação. É preciso transformar esse conteúdo em algo mais palatável do que meras palavras empacotadas e despachadas aos leitores. Vale destacar que a importância da qualidade do conteúdo produzido é o carro chefe do jornalismo, mas a capacidade de transformar uma notícia em algo mais visual é necessário em um mundo consolidado pela colossal fonte de notícias disponíveis; ter diferencial deveria ser o nosso objetivo.
Nesse ponto, o design de notícia é a área responsável não só pela diagramação da informação em uma revista ou jornal (esse talvez o pilar básico da estética informacional), mas é o responsável também pela capacidade de transformar um conteúdo jornalístico em infográficos, ilustrações e, de quebra, é o setor que tem a faculdade de oferecer um olhar macro sobre o todo e adaptar, readaptar ou até mesmo modificar um projeto editorial, seja ele impresso ou digital.
Aliás, as modificações causadas pelo jornalismo digital na formulação e distribuição das notícias têm feito que um gênero híbrido de jornalista apareça. No cenário de bits e bytes elaborar uma notícia faz com que o profissional leve em consideração aspectos de SEO (search engine optimization) para posicionar seu conteúdo de maneira mais visível nos mecanismos de buscas, como o Google, além de ter em mente fatores que envolvem desde a programação até a usabilidade, o que faz com que o jornalista tenha conhecimentos tanto de códigos como de design.
Profissional capacitado
O design aplicado como ferramenta do jornalismo impresso faz com que o profissional da imprensa visualize a notícia no veículo antes mesmo de ela ser publicada. Aliás, faz com que o jornalista procure aperfeiçoar a maneira como contará aquelas “histórias” de forma visual, com o intuito de torná-las mais facilmente consumidas pelos leitores. Já no caso do jornalismo digital, os novos dispositivos móveis, como smartphones e tablets, têm obrigado o jornalista a repensar como a notícia será consumida, e sem que isso comprometa a qualidade da experiência do usuário, já que esse consumo pode se dar nos mais variados players. Nesse ponto, a aplicação da engenharia reversa na imprensa se torna essencial.
Para o jornalista, professor e doutorando em comunicação Marco Bonito, jornalismo e design andam de mãos dadas. “O primeiro trata do conteúdo e o segundo da estética das formas que abrigam, justamente, os conteúdos. Muitos dos formados em comunicação têm o talento artístico necessário para ser designer, porém, sem o estudo necessário, chegam a no máximo ótimos diagramadores.”
O professor alerta que para conquistar conhecimentos em design é necessário um estudo específico, como um curso universitário, e enfatiza a importância do profissional estar devidamente capacitado para o mercado atual. “Claro que os conhecimentos básicos são importantes para aqueles jornalistas que desejam trabalhar com edição eletrônica de qualquer meio de comunicação, mas para ser designer é necessária uma especialidade”, afirma.
Densa e visualmente agradável
“Hoje temos a arquitetura da informação, uma nova área de atuação que requer conhecimentos em produção de conteúdo, linguagens de programação e design. Não é um espaço para ‘aventureiros’, pois há muito conhecimento e prática envolvidos no dia-a-dia desses raríssimos profissionais que são disputados à tapa pelo mercado”, completa o professor.
A importância de o jornalista atual conquistar conhecimentos de design é justificada na medida em que uma notícia não é mais só uma notícia. Ela deve ter, acima de tudo, conteúdo de qualidade, mas deve oferecer novos elementos para atrair o leitor, conquistá-lo e, desse modo, oferecer a ele uma experiência mais agradável do que o mesmo havia se acostumado. O empacotamento de conteúdo de antes agora se tornou algo infográfico, gráfico, colorido, visual, sem contar que em tablets e smartphones o consumo da notícia se dá de uma maneira mais gestual, com toques e movimentos que nunca existiram no jornalismo. Esse ponto por si só já justificaria o jornalista a aprender design e entender como sua notícia será “usada”.
Para o jornalista português e editor do Escola Freelancer Luciano Larrossa, “com a necessidade de o jornalismo ficar mais próximo das redes sociais (não só no consumo de informação, mas principalmente como distribuidor de informação) o design, principalmente o digital, acaba por ter uma relevância muito grande. Essa aproximação acontece porque a imagem acaba tendo um poder muito forte na partilha da informação e convêm que o jornalista tenha alguma noção dos bons princípios do design”.
Com isso, é possível observar que no contexto contemporâneo onde o jornalismo atual está submerso, tão importante quanto conteúdo de qualidade e bons curadores, é fundamental que o jornalismo – e os jornalistas – tenha a faculdade de produzir informação precisa, analítica e, acima de tudo, dentro dos moldes do consumo informacional existentes atualmente, onde a notícia deve ser densa no quesito robustez qualitativa, mas deve contar com aspectos que a tornem visualmente agradável de ser consumida por um público que apresenta novos hábitos e costumes, um público composto por exigência, mobilidade e gestos.
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Cleyton Carlos Torres é jornalista, blogueiro e editor do Mídia8!
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