Estado é único com três mananciais na lista do IBGE
Apesar da beleza vista de fora, as águas de três rios que banham a região Metropolitana de Porto Alegre estão entre as mais poluídas do Brasil. Conforme o IBGE, Sinos, Gravataí e Caí são o quarto, o quinto e o oitavo no ranking nacional da poluição. Nos dez primeiros da lista, o Rio Grande do Sul é o único Estado com três mananciais. Na primeira colocação está o rio Tietê, de São Paulo.
De acordo com Arno Kayser, presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos (Comitesinos), a transposição diária do rio Caí para o Sinos já não garante a vida da fauna e da flora do manancial e a qualidade da água que abastece 1,3 milhão de habitantes em 32 municípios. Ele acredita que o Plano da Bacia Hidrográfica do Sinos, que teve sua etapa final iniciada quarta-feira, é a única solução para que o rio se mantenha ao menos estável. “O crescimento de indústrias às margens do Sinos, juntamente com falta de tratamento de esgoto e carência de mata ciliar, foi degradando o rio. Se não tivéssemos esse projeto, com certeza a vida útil do Sinos seria de no máximo mais 15 anos”, destaca.
O documento foi idealizado em 2006, após a mortandade de 90 toneladas de peixes devido à contaminação causada por uma empresa de Portão. Na época, como medida emergencial, lanchas, canoas e tragas passaram 30 dias movimentando a água em uma tentativa de aumentar seu nível de oxigênio. O caso fez com que o Estado decretasse situação de emergência na bacia.
Kayser lembra ainda que desde 2011, quando começaram os racionamentos em Novo Hamburgo e São Leopoldo, o manancial vem demonstrando que precisa de ações imediatas. “Já deveríamos ter iniciado um trabalho de recuperação de mata ciliar e de tratamento do esgoto sanitário há muito tempo”, enfatizou.
No Gravataí, que percorre nove municípios, o trecho com maior índice de poluição fica entre Gravataí e Canoas, sendo que o ponto mais poluído de toda a extensão é o encontro do rio com o Guaíba. De acordo com o chefe do departamento de Qualidade Ambiental da Fepam, Clebes Brum Pinheiro, o descarte indiscriminado de esgotos é atualmente o maior problema. “Tem que haver investimentos para tratar os efluentes”, diz Pinheiro.
Ele destaca que a aprovação, em 2012, do Plano de Bacia do Gravataí foi um grande passo para iniciar a recuperação do rio. O projeto apontou necessidades de investimentos para melhorar a qualidade da água, bem como restabelecer a mata ciliar e, consequentemente, a flora e fauna. Além da poluição, o baixo volume de água compromete a vida no manancial. Este problema, segundo Paulo Muller, da Fundação Municipal de Meio Ambiente de Gravataí, é consequência das drenagens iniciadas nos anos 60, que retiravam água para plantações de arroz. “Essa obra de engenharia fez com que o rio perdesse sua capacidade natural de manter a água no banhado, que é uma esponja natural que segura a água e vai liberando aos poucos, mantendo o nível.” Para Muller, o rio só não morreu porque a comunidade se mobilizou. “O Gravataí não é um rio morto. Na medida em que andamos em direção à nascente, ele é rico de vida e é assim que tem que ser.”
Já o Caí atinge 41 municípios da Serra Gaúcha até a cidade de Montenegro. Segundo Tânia Zoppas, presidente do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Caí (ComitêCaí), a maior dificuldade hoje é combater a falta de planos municipais de saneamento, que tratam os esgotos domésticos. “A nascente do Caí fica em São Francisco de Paula, até Montenegro ele faz um longo caminho e, neste trecho, apenas Caxias do Sul tem cerca de 80% de seu esgoto tratado.” O ComitêCaí realizou mês passado audiência pública a fim de sensibilizar as prefeituras sobre a Lei de Saneamento Básico, que obriga todas as administrações a elaborarem seu plano de saneamento.
Sem ele, a partir de 2014, os municípios não poderão receber recursos federais para projetos na área. Tânia lembra que os planos também tratam, entre outras coisas, de abastecimento de água e manejo de resíduos sólidos. “O último levantamento sobre condições do rio, sua mata ciliar, indústrias e todo tipo de ocupação em torno da bacia foi feito há mais de cinco anos, agora, vamos atualizar dados e lutar para desenvolver nosso plano”.
Laira de Souza Sampaio e Stephany Sander
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