Crianças de hoje são mais inteligentes
Pesquisa mostra que houve elevação de QI de uma geração para outra nos Estados Unidos. Estímulo tecnológico está entre as principais causas
Não é impressão dos pais. As crianças e os adolescentes de hoje
são mesmo mais inteligentes que os das gerações passadas. Pelo menos essa é a
conclusão de um estudo publicado no fim de 2012 por três pesquisadores
norteamericanos da Universidade Duke, que fica na Carolina do Norte, nos
Estados Unidos. O levantamento mostrou que, de três décadas para cá, houve um
aumento de 0,3 pontos por ano no Quoeficiente de Inteligência (QI) de
estudantes de ensino médio acompanhados pelos pesquisadores. Os motivos, embora
não estejam completamente definidos, estão essencialmente ligados aos estímulos
educacionais.
A explicação é bem simples: muda-se a forma de ensinar, melhora-se o desempenho. E a metodologia que se tem hoje é, segundo educadores, voltada ao raciocínio, ao estímulo para que a criança e o jovem pensem e descubram soluções a partir de qualquer tipo de problema dado. É como dizer que a educação formal atualmente aposta no desenvolvimento da lógica para o aprendizado. Essa evolução é percebida em todas as áreas, especialmente nas ciências exatas, que foram as que mostraram a maior evolução de desempenho na pesquisa.
Hábitos
Alimentação e cuidado com a saúde também interferem no QI
Além dos estímulos externos vindos da educação, a explicação que a neurociência dá para o aumento de QI de uma geração para outra está ligada aos hábitos diferentes de alimentação e às mudanças nos cuidados com a saúde de uma década para outra.
Segundo o chefe do Serviço de Neurologia do Hospital Cajuru, Renato Puppi Munhoz, desde a barriga da mãe, no pré-natal, as crianças recebem hoje um tratamento diferenciado que vai refletir na saúde do cérebro. Quanto mais saudável ele for, maiores as chances de elevar o QI. “A genética não muda de uma geração para outra, mas os hábitos culturais e sociais, sim”, comenta.
Esses hábitos e estímulos são tão importantes para a neurociência que algumas doenças, como o Alzheimer, acometem mais as mulheres idosas do que os homens, porque na geração em que eles foram jovens elas ficavam mais em casa e se submetiam menos a atividades intelectuais que estimulam o cérebro.
Matemática
O estudo avaliou 1,7 milhão de alunos do ensino médio de 1981 a 2010. Além de revelar o aumento do QI ao longo das gerações, a pesquisa mostrou que diminuiu a diferença entre meninos e meninas no desempenho em matemática. Há cerca de 30 anos, os meninos tinham melhor atuação na resolução de exercícios matemáticos e de física. Hoje o desenvolvimento é praticamente igual.
Percepção
Você nota diferenças intelectuais entre a geração mais nova e aquela de décadas passadas?
“Os estímulos hoje são diferentes dentro e fora de sala de aula. O conhecimento é trabalhado em rede, ou seja, um puxa vários outros. Os jovens estão cercados de informação. Isso modifica a forma como o cérebro se desenvolve”, diz a professora do Departamento de Ensino da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) em Ponta Grossa Maria Sílvia Bacila Winkeler.
Em entrevista concedida por e-mail, o professor Jonathan Wai, um dos participantes da pesquisa da universidade americana, disse que eles trabalham com a hipótese de que a estimulação cognitiva por meio da tecnologia, como jogos e vídeos, é uma das causas do aumento do QI.
Essa estimulação pela tecnologia é percebida claramente pela orientadora educacional do ensino fundamental II e do ensino médio do Colégio Dom Bosco, Francis Faow. Ela, que está há 40 anos na profissão e acompanhou várias gerações de alunos, comenta que, por causa da oferta de tecnologia e das informações que os alunos encontram por meio dela, a capacidade crítica dos estudantes está muito maior.
Diferença histórica
Embora os testes indiquem que houve um aumento de QI de uma geração para outra, uma corrente de educadores não acha apropriado dizer que a geração atual é mais inteligente, pois não há como comparar o aparato cultural, social e educacional de uma época para outra.
Segundo a psicóloga e pedagoga Valéria Lüders, professora do Departamento de Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), a educação se relaciona diretamente com os elementos culturais. Se eles mudam, os resultados mudam também. “Claro que temos um resultado diferente, mas adequado à realidade. Assim como o do passado era adequado àquela realidade. Então não dá para comparar a inteligência de gerações diferentes”, diz.
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